
Lembro-me perfeitamente do nome do seu beijo. De como a conheci a olhar para a ponte D. Luis no Porto sentado numas das cadeiras brancas de plástico que havia na varanda do palácio de Belmonte. Era nessa mesma varanda que eu passava a maior parte dos meus dias de estudante. Os seus cabelos castanhos-claros caiam com tal perfeição nos seus ombros abaixo como se tivessem sido desenhados dentro de um sonho meu. Olhos verdes claros, tais como os meus. Uns jeans justos rasgados no joelho direito e uma t-shirt com minha banda preferida estampada nela foi tudo que bastou para eu me interessar logo naquele momento. O seu sorriso era sincero e ali ao olhar para mim tremiam com o nervosismo agudo de quem o tenta controlar para dizer a primeira palavra.
Preferi adiantar-me.
Preferi adiantar-me.
“Olá. Tudo bem?” – A frase típica de quem se cruza com alguma regularidade pelos corredores da universidade mas sem se conhecer pessoalmente.
“Sim. Tudo bem.” – Olha para a vista e senta-se ao meu lado. Não mesmo ao meu lado. Mantém uma cadeira de espaço entre nós. “Contigo, tudo bem?” – pergunta enquanto procura por algo na carteira. Um cigarro não, por favor.
Tira o maço de tabaco.
“Tudo em ordem. A aproveitar o bom tempo.”
“E aulas?” – enquanto acende o primeiro cigarro.
“Acho que devem estar a correr bem. Não me apeteceu ir.” – Encolho os ombros ao inclinar um pouco mais a cabeça para trás a tentar apanhar o sol.
“Costuma acontecer-te muitas vezes isso? Não te apetecer ir…” – olhando pela primeira vez directamente para mim. Eu respondo ao olhar.
Quase que me perco nos seus olhos.
“E tu, não tas em aulas?”
“Não me apeteceu ir” – Sorri, enquanto volta a por o cigarro na boca. – “Ia a entrar para a sala de aula, mas vi-te aqui e a tua postura convenceu-me.”
“A minha postura?”
“Sim. O “relax” todo que transmites. Por isso se chumbar à disciplina a culpa é tua e só tua.”
“Acho que é algo com que consigo viver.”
Ajeita o cabelo, prendendo-o por detrás da orelha que brilha com o sol do inicio de Verão que bate na varanda. Ela repara que a observo. Fujo com o olhar. Ela sorri.
Silencio. Olhamos em frente.
“Como é que te chamas?” – pergunto. - “Gosto da tua t-shirt” – atiro eu tentando fugir à minha vergonha e nervosismo que começa a subir-me pelo corpo.
“Obrigado. Chamo-me…”
…
Tudo o resto a seguir passou demasiado depressa. A primeira vez que caminhamos até a estação dos comboios. O primeiro pequeno-almoço antes das aulas. A primeira saída à noite. Como conheci os amigos dela e ela os meus. Como dois mundos diferentes e tão iguais se fundiram. A música. Os concertos. Os festivais e o primeiro beijo. Os sonhos em conjunto e as viagens de carro. O mar. Os banhos de mão dada. O riso. O amor eterno gritado aos céus. A primeira discussão.
…
Tudo, passou, demasiado, depressa.
Texto por.: Daniel Lopes
Imagem por.: Desconhecido. Summer of Love. 1967
BTW - Summer of Love.:
The Summer of Love was a social phenomenon that occurred during summer of 1967, when as many as 100,000 people converged on the Haight-Ashbury neighborhood of San Francisco, creating a cultural and political rebellion. While hippies also gathered in New York, Los Angeles, Philadelphia, Seattle, Portland, Washington, D.C., Chicago, Montreal, Toronto, Vancouver, and across Europe, San Francisco was the center of the hippie revolution, a melting pot of music, psychoactive drugs, sexual freedom, creative expression, and politics. The Summer of Love became a defining moment of the 1960s, as the hippie counterculture movement came into public awareness. This unprecedented gathering of young people is often considered to have been a social experiment, because of alternative lifestyles that became common, both during the summer itself and during subsequent years. These lifestyles included communal living; the free and communal sharing of resources, often among total strangers; and free love.
2 comentários:
Sabes o que é mais fixe desta história? Conseguir imaginar decentemente os cenários. E o facto de já ter passado por uma situação (relativamente) semelhante ajudou.
É engraçado... vim ao teu blog e deparei-me com este texto... completamente diferente dos outros... a qualidade de escrita... sempre... sou tua fã! os factos... bem... estes não sei se são, ams podiam ser realidade...
Quando o jardim estiver publicado, avisa!
Boas escritas!
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