terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Bom Natal :)


Genevieve... genevieve...

Genevieve sentiu um ligeiro arrepio na pele ao entrar no bar. A música alta ecoava na sua cabeça ao mesmo tempo que diferentes cheiros lhe entravam nas narinas. Suor, sexo, alcool e pele queimada de tatuagens feitas recentementes confundiam os seus sentidos. Ela observava os corpos que se mexiam e dançavam ao som da música. Via lentamente o suor humano a escorrer pelos corpos.
Como ela os admirava.
As paredes forradas com panfletos de bandas que actuaram naquele bar e velas já queimadas que deixavam a cera derretida completar o cenario.
Há mais de 680 invernos que ela têm 16 anos. Afastou o pensamento da sua fome e olhou para o grupo de músicos em cima do palco. A mulher na bateria, o guitarrista que não se importava do sangue que lhe saia dos dedos manchando a guitarra e salpicando a cara enquanto tocava.
Ela sorriu e sentiu-se em casa neste ambiente. Os tempos mudam mas o gosto pelo calor, pela paixão e pelo prazer não. Passou a lingua pelos dentes afiados ao olhar de cima a baixo o corpo de uma mulher que dançava suavemente junto a uma das paredes.
Aproximou-se dela e suspirou-lhe no ouvido, e um suspiro foi quanto bastou. A mulher seguiu-a automaticamente. Usava um top que deixava a barriga e os braços nús. umas calças de ganga rasgadas nos sitios certos e Genevieve admitia para si que a exitava só de pensar em arranhar aquelas tatuagens que ela com tanto orgulho mostrava.

A música subiu de volume. O ar abafado a todos cegou e a boca de Genevieve encheu-se de sangue.

Genevieve... genevieve... só matas o que consegues.




Texto por .: Daniel Lopes

texto em formato de vénia ao livro que ando a ler. Genevieve da Black Library.

A todos desejo um fabuloso Natal. Todos nós merecemos mais do que pensamos merecer.

Viva a Revolução!!

Aqui fica um audio para ouvir enquanto odeiam o texto. lol

http://www.youtube.com/watch?v=bQTkOP60bGg

Imagem .: Capa do livro original "Genevieve".

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

OST e mais Noticias

E cá estamos nós.

Com o final do capítulo II ainda há dias e o capítulo III já na cabeça, chego a um ponto onde tenho que acalmar e pensar bem no que quero fazer com esta historia e no que desejo para ela.

Se só a tornar num conto, perdida num blogue que muita pouca gente visita e lê, ou dar asas a ela e a mim.

Mas enquanto me encontro aqui nesta encruzilhada, deixo-vos com uma banda sonora
construída por mim, para aqueles que não sabem o que ouvir enquanto lêem a historia do Cássio.



Em cima 1 - Six Organs of admittance - Shelter from the Ash

2 - Isis - Holy Tears

3- Red Sparowes - We Stood Transfixed in Blank Devotion As Our Leader Spoke to Us, Looking Down on Our Mute Faces With a Great, Raging, and Unseeing Eye

4- Neurosis - The Tide

5- Battle of Mice - The Lamb and The Labrador

6- Nine Inch Nails - Everyday is Exactly The Same

7- Danny Elfman - Little Things

8- Isis - In Fiction

9- Red Sparowes - A Brief Moment of Clarity Broke Through the Deafening Hum, But it Was Too Late

10 - Dead Can Dance - Indus


Todos estas músicas podem ser vistas e ouvidas no nosso belo amigo youtube :)

É com agrado que também transmito esta notícia.

Estou a trabalhar numa animação para um festival de Lisboa, o Indie Lisboa. Aqui vos deixo uma imagem da animação. Espero que gostem.



Agradeço desde já aos incríveis Fatagagas, por já se encontrarem a trabalhar na banda sonora para este meu pequeno (mas trabalhoso) projecto.



Até uma próxima.

Daniel Lopes

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Final do Capitulo II

Fico no quarto ainda por momentos, sentado a pensar e a sentir o cheiro do incenso. Penso no passado da humanidade repleta de guerras, traições, dores e mortes. Assim se formaram novos impérios, novas civilizações e assim também elas caíram.

Religiões, magia, milagres, espíritos, monstros e preces. Este mundo agora místico ou sobrenatural em que tentamos viver parece estar cada vez mais próximo de nós. E há muito que eles nos disseram que já não somos bem vindos neste novo mundo.
O meu estado de sonho apenas me trouxe mais questões.
Mais dúvidas.
Uma parte de mim quer saber respostas do porquê desta tentativa de extinção da humanidade e de onde vêm os seres. Outra quer levar o resto dos sobreviventes a um porto seguro, se é que ele existe, mas, outra parte dentro de mim apenas quer deixar este mundo. Morrer e ter o meu descanso.
Tento levantar-me visto que aquela falsa Virgínia já não se encontra aqui. Já não sinto um peso sobre mim a forçar-me a estar sentado. Será que com quem estive a falar era o mesmo ser, o espectro que me pôs a mão no ombro e me sussurrou ao ouvido momentos antes de eu apanhar o tiro no peito. Será ela imaginação minha ou mesmo verdadeira. Já não sei distinguir nada nos tempos em que vivo.

Levanto-me.

Saio do quarto e caminho pelos corredores do refúgio.
Vejo as pessoas a rir, a festejar e a dançar como se nada tivesse acontecido. As suas roupas são diferentes. Estão limpas e repletas de imensos detalhes cravados em várias cores. Os cabelos das mulheres estão vivos, sem terra ou pó neles, tal como os seus olhos e as suas peles. Andam de mão dada e trocam carinhos com os seus amados.
As paredes e os corredores estão repletas de velas e incenso. Um vento morno viaja pelos corredores ao mesmo tempo que passam por mim duas crianças que brincam e gritam atrás de uma bola colorida. Ainda penso em dizer para elas fazerem menos barulho, pois é perigoso, que o barulho alto pode comprometer a nossa posição, o nosso esconderijo, mas rio-me logo de seguida com a minha estupidez.
Isto não passa de um sonho!
Nem uma visão acredito que seja, e isto não é o meu lado pessimista a falar. Apenas sei que estou a morrer, a perder sangue. Estou aqui, mas ainda sinto a bala alojada dentro de mim. Toco no peito e sei que eles ainda não a tiraram e que provavelmente nem a vão conseguir tirar.
Todas as pessoas por quem eu passo enquanto passeio pelos corredores cumprimentam-me e acenam-me, sempre bem dispostas e calorosas, como se nada tivesse acontecido. Sabe bem este momento, mas por outro lado também me assusta.
Passo pela área do lago, onde mulheres se banham nas águas frias com os seus peitos nus, ao mesmo tempo que lavam a roupa e limpam os alimentos. Falam umas com as outras do tempo lá fora. De homens e amores que não deram em nada. Do tecto, um cesto enorme desce por cordas cheio de alimentos frescos. Dois homens acenam-me da fenda da cave, agora limpa de raízes, enquanto seguram nas cordas do cesto. Dentro do cesto um gato pequeno e gordo lambe o pelo e cheira a comida. Uma das mulheres ao ver o gato pega nele e leva-o ate terra seca. O gato abana o rabo enquanto mia, fugindo logo de seguida.
Já não via um animal desde o dia dos ataques.

Volto aos corredores e reparo que as palavras de Virgínia já não existem pintadas nas paredes. Este sonho está a ser demasiado perfeito.
Imagino-os a tentar reanimar-me e a fazer de tudo para tirar a bala dentro do meu peito. Não quero que eles sofram com a minha morte, mas também não quero voltar. Não quero mais dor, mais guerras ou mais sangue.
Caminho em direcção ao meu quarto e por entre a cortina que serve de porta vejo duas silhuetas. Uma mulher e uma criança. Afasto a cortina e fico a olhar enquanto alegria me enche a alma.

São elas.

A minha bela mulher com os seus lábios perfeitos e a minha perfeita filha com os seus belos olhos, que brincam uma com a outra a tentar escolher brincos dentro de uma caixa velha de madeira. Os brincos brilham tal como os seus risos. Elas vestem o mesmo tipo de vestidos que as mulheres daqui. Perfeitos, coloridos, compridos e simples.
Sinto uma dor no peito que me faz tossir.
A minha esposa olha para mim e levanta a mão para eu me aproximar.
Chama por mim.
Eu caminho, mas a dor no meu peito aperta. Não quero parar. Dou um passo e tento agarrar a sua mão. A minha filha senta-se na cama e diz o meu nome. Para eu me deitar na cama e ajudar a mãe a escolher uns brincos bonitos para a festa de logo à noite.
Não sei que festa é, mas quero ficar para descobrir. Não as quero deixar...
Perco as forças nas pernas e caio de joelhos. Tento-me arrastar.
Tudo roda.
O meu peito aperta ao ponto de explodir. Grito com a dor.
Eles encontraram a bala.


Volto à realidade a gritar.

Olho e vejo Jorge com dois pedaços de ferro dentro da minha ferida a tentar retirar a bala enquanto murmura para eu me aguentar. Sofia e Miguel juntamente com os dois guardas que ajudaram a carregar-me, seguram-me no corpo. Eu abano-me e grito com a dor. Sinto as lágrimas de Sofia a caírem-me nos olhos, que passam a ser minhas.
Os ferros ardem dentro de mim e eu olho para Jorge. Olho e rogo para que ele me deixe ir. Para que ele me deixe ir ter com a minha mulher e filha, mas, ele cerra os olhos e puxa os dois ferros e de dentro de mim eu vejo um pequeno pedaço de ferro dobrado a sair.
O aperto no peito desaparece para dar lugar a uma nova dor e a minha garganta se encher com sangue. Todos pegam no meu corpo e inclinam-me para eu não me sufocar com ele. Eu tusso e cuspo, enquanto Jorge tapa a ferida e faz pressão nela.
Deitam-me novamente e fico a olhar para as cabeças à minha volta, que chamam pelo meu nome, que dizem para eu não desistir ou adormecer.
Vejo Virgínia no meio delas e, como se seria de esperar, ela sorri. Peço para ela me levar de volta. Para ela me levar deste mundo, mas ela apenas faz sinal com o dedo nos lábios para eu não fazer barulho.
Olho para Jorge e ele molha um pano em água fresca para limpar a ferida e por novos panos limpos sobre ela. Com as minhas últimas forças agarro o seu braço e fito-o. Por detrás dele vejo novamente aqueles pós brilhantes a flutuar, que vão formando símbolos e círculos onde do meio deles Teresa aparece tal como desapareceu. Com as suas asas negras e o corpo envolvido num pano branco que flutua à volta dela sem lhe tocar, servindo apenas para esconder as suas partes íntimas ela voa na minha direcção. Levanta o braço e com a mão segura uma espada em chamas apontando-a na minha direcção.


“Morre e vive novamente, mortal!” - Grita como se gritasse com todas as vozes do universo.


Sinto a espada a cravar-me na carne e tudo arde. Os meus olhos. A minha boca e as minhas mãos. Olho para a ferida e caio para trás. Viver novamente?! Não quero...
Só quero estar com elas... Viver onde elas estiverem. Procuro pelo anjo com o corpo de Teresa.


“Não te atrevas a trazer-me de volta... Não te atrevas!” - penso eu na sua direcção.


Cerro os punhos e tiro prazer no meu último suspiro.
Sofia bate freneticamente no meu peito e chama por mim, mas sem resposta.
Sinto-me a ir...
Jorge aproxima a sua mão fechando-me os olhos.
Tudo fica escuro.
Morro.






"Nunca mais voltar
È o que torna a vida tão doce."

Emily Dickinson
Poema número 1741






Texto por.: Daniel Lopes

Imagem por.: Hoon



Vemo-nos no capitulo III ;)

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Capitulo II - Pag I e II



De que surgirão heresias novas, temos a profecia de Cristo; mas de que antigas serão destruídas, não temos nenhuma predição.


Thomas BrowneReligio Medici, I, 8 (1642)



Olhai e recordai. Olhai para este céu;

Olhai profunda, profundamente para o limpo ar marinho,

O ilimitado, o término da prece.

Falai agora e falai para a sagrada abóbada.

Que ouvis? Que responde o céu?

Os céus estão ocupados; esta não é a vossa casa.


Karl Jay Shapiro - Travelogue for Exiles.




Capitulo II

Feridas na Babilónia.


Custa-me respirar.

Vejo o chão e sinto a terra a entrar-me pelas narinas. O cheiro a terra, o sabor dela na minha boca, na minha língua que me torna a boca seca. Com esforço foco o meu olhar já enublado em Sofia e no Jorge que chamam pelo meu nome. Parecem estar a gritar, mas não consigo perceber.

Tento fechar os olhos. Só quero adormecer. Só quero partir e deixar esta merda de mundo para trás, mas, eles não me deixam. Chamam por mim e levantam-me o que me faz olhar para o meu próprio sangue.

Jorge e dois guardas que conseguiram sobreviver pegam em mim. Jorge nas pernas e os guardas no meu tronco e braços. Gemo com a dor, mas deixo-me ir. Com a cabeça caída para trás vejo aos solavancos Sofia com as mãos agarradas ao seu caderno e o desespero agarrado na sua face.

Ela diz-me que tudo vai correr bem e a minha cabeça cai e os meus olhos reviram.

Não consigo ver onde está Miguel.

O meu sangue vai marcando o caminho com as suas gotas. Passamos por cima do corpo de Virgínia e até ela fica marcada. A minha faca espetada no seu peito.

Reparo na sua face. Ela sorri e os seus olhos continuam totalmente abertos. Aquele olho vermelho fita-me e eu desmaio por momentos.


Vejo a minha mulher e a minha filha a acariciar-me a cara. O cabelo e a barba. Dizem que me amam e eu não consigo responder. Elas abraçam-me e eu sinto-as quentes como uma tarde de Verão no meu corpo. Quero ir ter com elas. Quero flutuar e voar como elas, voam ao meu lado. Tão belas. Tão perfeitas.

Como eu sinto a vossa falta.


Acordo.

Um dos guardas olha para mim e pega melhor no meu tronco. Estamos já a entrar na casa. Ouço o arrastar da mesa e descemos em direcção aos túneis. Tusso e sangue invade-me a garganta. Jorge grita e inclina-me. Cuspo o sangue para o chão.

Ouço-o a rogar-me ao ouvido para eu me aguentar. Para não desistir, mas, desistir é que eu desejo meu bom amigo.

Desmaio novamente.


Vejo Virgínia no seu quarto com as suas vestes. O quarto repleto de velas e incenso pousados nas prateleiras de madeira montadas nas paredes de pedra. Ela sorri para mim e diz-me para eu entrar e sentar-me. Já não tem a mutação na cara e parece-me mais nova. Sento-me em cima de uma almofada no chão e ela oferece-me uma chávena de chá. Aceito sem saber porquê. Ao olhar para o meu reflexo na água do chá reparo que não tenho a pala e o meu olho está bom.

Infelizmente isto não passa de um sonho.


“Será mesmo apenas um sonho isto Cássio?” - Pergunta-me Virgínia como se estivesse a ler o meu pensamento enquanto acende mais uma vela.


“Nem comigo a morrer me deixas em paz velha?!” - Respondo eu a sorrir e a passar a mão pela minha face a sentir o meu olho bom. Não sinto raiva nem vontade de a esganar. Isto não passa de um sonho, por isso mais vale aproveitar enquanto consigo. - “Sabes Virgínia, preferia estar a sonhar com a minha filha e a minha mulher do que contigo.”


“Sim, compreendo. Mas, os sonhos, a morte e a vida nunca o são como queremos e desejamos. Por isso, acho que ainda vais ter que passar mais uns momentos aqui comigo.” - Ela pega num livro e folheia-o. Vai murmurando palavras e olhando para mim.


Dou um gole no chá e ele sabe mesmo a verdadeiro. O incenso cheira mesmo a incenso e a almofada pôs-me mesmo confortável. O quarto está quente. Olho para ela, e parece que já não consigo ver nenhuma ruga na sua pele. Dos seus lábios começa a sair um cântico e vindo do nada sons de instrumentos aparecem. Violinos e pianos que se misturam com a sua voz.

Sinto-me a cair.

Estou a morrer...


“Estás a morrer Cássio, mas isso não quer dizer que o teu tempo já acabou.” - Diz-me ela enquanto a música não pára. Como se tivesse sido sempre outra pessoa a cantar neste tempo todo. - “Não sabia mas já o tens dentro de ti...”


“Tenho o quê dentro de mim?” - Pergunto pousando a chávena de chá. Olho para as minhas mãos e noto que delas saem pequenos pedaços de pó brilhantes que fluem e viajam sem motivo aparente. Sigo-os e eles iluminam o quarto criando símbolos em forma de círculos no ar. O símbolo da vida eterna.


Ela pensa na minha pergunta e parece meditar sobre ela - “Isso não te posso responder. Como deves compreender eles não me deixam...” - Fixando os olhos em mim e sorrindo. Tão inocente o seu sorriso que me faz acreditar nele.


“Eles quem Virgínia?” - Ela vira a cara com a minha pergunta e volta a pousar o livro. A música vai-se afastando. Passa as mãos pelas pernas e levanta-se.

“Pára de me chamar Virgínia. Não gosto do nome, e ela já cá não está Cássio.” - Caminhando em direcção á saída do quarto. Ela afasta uma das cortinas que serve de porta ao quarto e eu tento levantar-me para a seguir, mas não consigo. Fico a olhar para ela enquanto ela sai arrastando pelo chão as suas vestes brancas.


“Quem és tu?” - Pergunto mesmo antes de ela sair.


“Não te quero assustar Cássio.” - Responde-me ela parando e olhando fixamente para mim.



Desenho por.: Daniel Lopes tirado do Caderno de Sofia representando Cássio ferido.

Texto por.: Daniel Lopes.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Fim do Cápitulo I


Saio da campa e olho atentamente, de cima a baixo, para Virgínia. Já suspeitava que ela aparecesse mas desejava para que não. Ao lado dela surgem agora quatro homens, seus seguidores e da sua “palavra”. Os homens carregam facas, menos um que carrega uma pistola, que por “sorte” a aponta na minha direcção.


“Que queres Virgínia? Estamos a enterrar uma criança. Até isto, tu, vens perturbar?” - tento eu dizer num tom de voz autoritário mas baixo para não criar ainda mais barulho.

“Eu sei bem que é um enterro. Ela também era minha filha. Mas hoje, Cássio, hoje é o dia em que morrerás!”


Ao ouvir estas palavras, os guardas apontam todos as armas a Virgínia, mas, nem ela nem os seus homens mostram qualquer sinal de receio, como se tivessem vindo numa missão suicida. Algo dentro de mim me diz que isto não está bem. Algo não bate certo.


“Estás velha e senil, mulher!” - Diz-lhe Jorge, não perdendo da mira da sua pistola a nuca dela. “Volta de onde vieste e dá-te por contente por ainda te deixarmos viver entre nós.”


Ao ouvir isto ela começa a rir num som estridente.


“Cala-te Virgínia! Com o barulho todo que estás a fazer ainda os vais atrair” - Grita-lhe entre sussurros Sofia.


Ela olha para Sofia, e faz sinal para que os seus homens fiquem à vontade, mas eles ignoram a ordem e não saem do lugar nem perdem o movimento, como se sustivessem o respirar à espera de atacar. Parecem hienas apenas desejando pelo momento certo, ou por um tremer de gatilho para nos saltarem em cima.


“Minha querida...” - diz Virgínia dirigindo-se a Sofia com um sorriso. “eles já cá estão. Eu sou eles!” - com um movimento de braço, ela levanta o véu do lado esquerdo mostrando uma mutação na sua face, com a vista vermelha, onde o preto pinta o resto do olho.


Não sabemos o que fazer ou como reagir. Do seu olho, saem veias azuis e vermelhas que se interligam por manchas verdes até chegarem ao seu sorriso, deixando as outras descer até ao pescoço. Os guardas com o medo começam a tremer. Miguel dá um passo na direcção dela como se quisesse observar melhor a mutação, mas rapidamente perde essa vontade pois ela levanta a mão como forma de fazer parar a sua curiosidade.


“Como vês Cássio, eu já sou um deles. Fui-me transformando desde o dia em que cheguei ao teu belo refúgio, quase morta pelas feridas. Oh... como tu tens orgulho no teu pequeno mundo! Este olho deu-me poderes, com ele consigo ver o passado e o futuro sempre que desejo e de quem desejo, mas, acima de tudo faz-me viver no meio deles. Posso sair ao meio da noite e não ser atacada. Eles cheiram-me. Rodeiam-me mas não me fazem mal. Apenas me amam...”


Não aguento mais. Esta velha pensa que uma doença qualquer que a está a atacar é uma marca deles. Uma oferenda. Isto tem que acabar e acaba hoje! Ela é um mal para o refúgio desde o primeiro dia.


“Então vai viver no meio deles Virgínia e deixa-nos em paz! Estás senil e não fazes ideia do quanto as tuas acções estão a prejudicar-nos. Isto tem que acabar mulher!” - digo entre os meus dentes semicerrados de raiva.


Ela olha para mim e a sua cabeça inclina ligeiramente para a esquerda, não perdendo o seu olhar em mim - “Eu consigo ver quem tu és Cássio. O que aconteceu com a tua família. Como ela morreu. Mas, acima de tudo, eu consigo ver no que te vais tornar. A era do Homem acabou, e nada podes fazer contra isso...”


“De que falas velha? Achas mesmo que alguém acredita em ti, nas tuas mentiras e que consegues viver e caminhar no meio dos seres?!” – Com a raiva a apoderar-se de mim estou a perder esta discussão, ao mesmo tempo que imagens da minha família me assaltam a mente. Raios...será que ela consegue ver mesmo...o que aconteceu com eles...


“Eles acreditam...” - apontando para os homens ao seu lado. - “e tu também irás acreditar! Hoje é o dia!”


Sinto o vento frio a passar no meu corpo.

Vento sem cheiro a cinzas?!

Ouço um barulho seguido de um grito, e ao olhar para trás de mim vejo o corpo morto de Teresa a mexer-se. Primeiro as mãos, seguido dos braços e a cabeça, que se levantam. Os seus olhos abrem-se, e sua mãe cai no chão de joelhos. Tudo fica silencioso e em câmara lenta, como se de um filme se tratasse. Sofia grita, deixando cair o seu caderno de desenhos no chão. Jorge é o primeiro a disparar a arma em direcção ao corpo da criança que agora já se põe de pé em cima da mesa, mas, a bala não faz nada. Passa por ela como se de um fantasma, de um espectro se tratasse. Olho para Virgína apenas para a encontrar a sorrir para mim. Aquele sorriso. Aquele sorriso maldito!

Não aguento mais.

Pego na faca que tenho no cinto e tiro-a. Todos os segundos que passam parecem uma eternidade. Vejo tudo à minha volta. Dois dos homens de Virgínia já se encontram em cima dos guardas com as lâminas espetadas nos pescoços deles, enquanto os outros não sabem o que fazer, ou com demasiado medo para fazer algo. Miguel não consegue parar de olhar para o que era Teresa, que agora se levanta na mesa, abrindo os braços e levantando a cabeça para o céu. Enquanto fecha lentamente os seus olhos mortos o manto vai caindo, mostrando o seu corpo morto, nu e branco.

Com um rápido balancear da mão viro a faca no ar, agarrando-a pela lâmina. Cerro os olhos e não perco a minha atenção em Virgínia.

Ela vê-me mas não se mexe.

Sente-me mas nada faz.

Atiro a faca na sua direcção e ela voa brilhando com os finos raios de luz que conseguem ultrapassar as nuvens e as árvores da floresta, reluzindo na lâmina.

Virgínia não perde o seu sorriso irritante e maldoso.

Jorge continua a disparar para Teresa, mas sem sucesso. O corpo da criança levanta-se da mesa como se estivesse suspensa, como se algo a estivesse a puxar para cima, apesar do esforço que a mãe faz para a trazer para baixo, entre gritos, lágrimas e puxões.

A sua cabeça descai com os olhos fechados para a sua mãe, quando de repente se abrem, apenas para mostrar uns olhos azuis e vazios que já não lhe pertencem.

A mãe larga-a repentinamente com o susto e por não saber que ser é aquele que agora habita no corpo da sua filha. Tudo isto enquanto a minha faca ruma na direcção de Virgínia. Jorge continua a disparar até ficar sem balas. Deita a arma fora e corre em direcção a um dos guardas, ajudando-o a matar um dos homens com uma paulada na cabeça. Até sangue demora a sair, nestes segundos que parecem horas. Sofia apenas olha. Miguel viaja com Teresa enquanto ela olha para a sua mãe, e a sua mãe olha para o que foi outrora sua filha.

Virgínia dá um passo em frente e espera pela faca. Teresa dobra as costas na direcção da sua mãe. O olho vermelho e preto de Virgínia fita-me. Teresa toca na testa da mãe e das suas costas saem penas pretas. A velha dá outro passo e a ponta da lâmina toca nas suas vestes. Se os deuses olhassem agora para nós veriam-nos no meio disto tudo, onde só árvores, terra, pedra, sangue e suor nos rodeia. Asas negras explodem das costas de Teresa entre sangue e pedaços de pele sem nunca perder o toque na sua mãe. Enquanto a faca trespassa o corpo da velha, uma segunda Virgínia aparece do meu lado, como se de uma quiméra se tratasse.

As asas da criança esvoaçam no ar. A mão da segunda Virgínia pousa no meu ombro. O seu olhar é sincero e puro, como se se tratasse de outro ser totalmente diferente.

O cabelo da mãe de Teresa vai-se tornando branco cal com o toque da filha e as suas asas largam penas negras que se evaporam no ar.

A velha suspira no meu ouvido - “Sente o verdadeiro significado da palavra desespero Cássio e alegra-te nela, pois esta Era é nossa. Este é o ciclo da vida.” - A faca entra totalmente no corpo de Virgínia fazendo-o voar para trás, ao mesmo tempo que também cai seca e morta a mãe de Teresa. A sua filha desaparece do mesmo modo que as penas, apenas deixando para trás o manto que cobria o seu corpo. Os homens que ainda vivem, fogem por entre a floresta enquanto Jorge tenta ajudar os guardas feridos com a ajuda de Sofia. O corpo de Virgínia cai sem vida na terra e o seu espelho que me suspirou ao ouvido desaparece.

Não ouço nada. Apenas a floresta à minha volta. Miguel olha para mim, com a face branca e eu reparo na lama nas suas botas. Ainda me lembro quando as minhas preocupações era tentar não sujar a toalha dela ao pequeno almoço enquanto mexia o leite com café.

Sofia corre na minha direcção enquanto grita por Jorge, por ajuda e me agarra pela roupa, passando a sua mão pelo meu cabelo comprido, olhando-me nos olhos com os seus em água. As suas mãos tocam-me no peito e pousam novamente na minha face.

Sinto-as húmidas.

Baixo a cabeça e olho para o meu peito, onde uma mancha de sangue se alastra pela roupa.

Que horas serão?





E assim é. O final do primeiro capitulo. Espero que quem acompanhou a historia até agora não tenha em nenhum momento ficado desiludida. Agradeço todos os comentarios que recebi. Poucos mas bons : ) Também, em todo o caso dificil publicitar um blogue.

Agradeço do fundo do coração à Sofia, por toda a ajuda que me deu e todo empenho que tem demonstrado nesta historia comigo. Adoro-te.


Inicio do próximo capitulo muito em breve :)



Texto por.: Daniel Lopes

Imagem por.: Desconhecido. Mas o texto que a acompanhava era este (At first glance this ghost picture looks like nothing more than a simple double exposure. That is, however, until you find out that the woman standing in front of the man had been dead for years at the point in which the photograph was taken. She was the man's dead wife but yet she showed up in the ghost picture.)

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Capitulo I, Pag VII & VIII


Ao chegar ao exterior, o fino e fraco sol já tinha desaparecido para dar lugar a nuvens escuras carregadas de cinzas. No ar ainda se notam pequenos pontos de carvão que carregam o ar e que quase nos obriga a cobrir a cara com um pano, para tentarmos filtrar o ar. Aqui dentro da casa os monges carregam o corpo da criança sem emitirem um som de esforço, enquanto a mãe luta contra as lágrimas que lhe querem a todo custo descer a face. Três dos cinco guardas fazem de batedores na casa e arredores, principalmente no caminho até a floresta para ver se existe algum perigo eminente, enquanto os outros dois ficam connosco. Os outros seis membros do conselho juntam-se a mim. 

Isto não pode ser, se formos atacados pode morrer o conselho todo e depois as pessoas lá em baixo ficam sem ter quem os lidere. Ficam ainda mais perdidas e desorganizadas. Sussurro ao ouvido de Sofia, um dos membros mais importantes do conselho, que apenas três de nós é o suficiente para vir, e ela transmite automaticamente aos outros, concordando com a opinião. É com agrado que os outros, tirando o Jorge, voltam ao refúgio. De todos os membros do conselho, junta-se a mim a Sofia que antes dos ataques era professora de línguas, Miguel, historiador de culturas antigas e Jorge, militar das forças armadas. Os batedores voltam, dão mais uma volta à casa e tapam o caminho de onde viemos. Olho por uma das janelas partidas da casa e observo as casas e prédios destruídos à nossa volta. É claro que eles sabem que nós estamos aqui. Se não nos vêem, sentem o nosso cheiro, mas se calhar nunca se esforçaram por nos encontrar, afinal esta nova Era é agora deles. Mesmo que a esta hora ainda seja, a nosso ver, minimamente seguro vir cá fora sabemos que eles habitam nas sombras, pelo menos até ao dia em que eles se habituem à luz solar e aí sim, tudo será mais difícil para nos conseguirmos manter vivos.

Os batedores juntam-se perto da saída da casa e fazem sinal para não fazermos barulho. Os monges endireitam o corpo e dão o primeiro passo. Jorge pede uma arma a um dos guardas e junta-se a eles. Eu tenho a minha faca agarrada ao meu cinto. Saímos todos, tentando fazer o mínimo de barulho possível, seguindo directamente para a floresta que felizmente fica no topo da rua. Ao subir a rua consigo ver o que resta da antiga vila de Sintra. Algo que antes era tão perfeito, com a sua carga mística, dá agora lugar a algo partido, mas por incrível que pareça ainda possui de alguma forma uma certa beleza, mesmo com esta vista carregada de cinzas, pó e tons cinzentos. Só vim a Sintra antes dos ataques duas vezes, e sempre que vim foi porque elas me pressionavam e quase me arrastavam até aqui. Creio que estava sempre mais preocupado com o meu espaço e o meu trabalho. Lamento agora, não ter aproveitado melhor esses dias. 

Saio dos meus pensamentos porque tropeço no pé da Sofia, onde ela me lança um olhar de reprovação. Pouso a mão no seu ombro como forma de pedir desculpa. Ao subir a rua entramos directamente num caminho estreito que entra dentro da floresta, onde caminhamos uns bons dez minutos entre árvores finas e febris, nenhuma delas contendo uma única folha, até chegarmos a uma casa de pedra que noutra vida foi uma pequena capela. Agora só metade dela se encontra de pé. Encontra-se envolta em raízes secas e podres, mas, no seu centro mantém-se firme um poço, já sem água com dizeres e datas inscritas na pedra, sendo a mais antiga que encontrei de 1456. À volta da capela inúmeras campas de pedra erguem-se do chão, algumas com estátuas de mármores partidas ou apenas com cruzes de madeira. que complementam a paisagem. Por incrível que pareça os seres não se aproximam deste local. Não sabemos porquê, mas, foi algo que alguns dos sobreviventes descobriram há uns tempos atrás, ao fugir de dois seres que no momento em que entraram nesta espécie de cemitério, os seres fugiram emitindo gritos de dor e medo. Já percorremos este espaço inúmeras vezes mas até hoje não encontrámos nada que explique o porquê do seu receio para com este local, mas reparámos que aqui só estavam enterradas mulheres. Só e apenas mulheres. Não havia nem um único homem aqui enterrado. Questionámos as pessoas, mas nenhuma sabia explicar a existência deste local e muitas delas não sabiam sequer da sua existência, como se este lugar tivesse aparecido depois dos ataques. Depois de uma reunião com o conselho, decidimos que o melhor era mesmo não perturbar o local e continuar apenas a enterrar pessoas de sexo feminino aqui, tal como há centenas de anos tem sido feito e os de sexo masculino serão carbonizados e atirados ao ar. 

"Corpo de homem nu, limpo e completo não passas de alimento para as chamas da manha. Sonha que os teus restos, feitos em carvão e papel são atirados ao ar e aí luta a tua melhor batalha. Voa e entra nas narinas dos nossos inimigos. Daqueles que nos tiraram tudo. Entra nelas e mata-os porque eles nunca antes tinham inspirado tamanha perfeição e pureza. Mata-os e alegra-te no teu eterno descanso." - Este foi um dos textos que Miguel escreveu aquando a decisão sobre o que fazermos com os corpos dos mortos, entrou em vigor. Não sei porquê, mas sempre que penso neste assunto lembro-me deste texto.

Os monges pousam o corpo numa mesa que construímos aqui e pegam numa série de pás. Eu e Jorge pegamos em duas das pás e ajudamos a cavar. A mãe de Teresa levanta o véu que tapa o corpo da sua filha que jaz na mesa e vai penteando o seu cabelo. Ninguém consegue dizer nada, porque uma coisa é certa, é nestes momentos, que recordamos tudo o que perdemos e quem também já perdemos. Ao retirar a terra para um monte ao lado pergunto-me a mim próprio, se o Deuses em quem tanto acreditávamos viraram as suas costas a este mundo ou apenas nos estão a castigar depois de tantos anos de pecados, guerras e morte, porque é exactamente com isto que eles nos estão a castigar.
Sofia está junto aos guardas que não tiram o olhos sobre a floresta. Mas, se conheço bem a Sofia ela está a procura de algum tipo de vida. Um pássaro, um coelho, apenas algo que lhe dê esperança para o dia de amanha. Enquanto cavo vejo-a a tirar um caderno da sua sacola e um lápis de carvão onde começa a desenhar o que vê.  

A minha pá bate em algo que ouvimos a rachar e partir. Com tamanho silêncio este rachar percorre a floresta toda. Os guardas voltam as costas para ver o que aconteceu. Todos paramos. Retiro a pá, mas, não vejo nada. Jorge agacha-se e passa os dedos na terra. Uma manhã branca assalta-nos os olhos. Damos um passo atrás e Jorge afasta mais a terra para revelar uma caveira que nos fita com o espaço que parti mesmo na nuca. Estamos em cima de uma campa, uma campa que não estava marcada. Neste momento ouvimos um barulho vindo da floresta e nela aparece Virgínia envolta num manto branco sujo, com o qual tapa o lado esquerdo da sua cara. Os guardas apontam-lhes as armas ao que ela responde com um sorriso e pára, não desviando o seu olhar fixo em mim. Os guardas nem se aperceberam da sua chegada. 
Virgínia aponta o dedo velho e fraco na minha direcção e grita:

"Hoje é o dia Cássio. Hoje é o dia!"


Continua.

Texto por.: Daniel Lopes (com a ajuda da bela Sofia).

Imagem de.:  Desconhecido, St. Mary's Church no fecho do século 19th. 

 

sábado, 30 de agosto de 2008

Capitulo I, Pág V e VI

Durmo e não durmo, pois a minha mente não consegue parar os sonhos. Sonhos que usam pele de pesadelos que atacam a minha dor. Vejo a minha esposa. A minha filha. Escondidas debaixo da mesa de cozinha olhando assustadas para uma nuvem de fumo verde que se formava deixando sair dela um ser de pedra e mosaicos com boca e olhos. Fitando-nos. Olhos em chamas azuis e boca sem fundo gritava e abanava a casa. Corro na sua direcção com o taco. Os gritos a furar-me a mente. O piano a tocar. Ouço o bater do meu coração nos meus próprios ouvidos. O ser abria os braços a gritar e os azulejos saíam das paredes flutuando à sua volta. Sangue a escorrer na minha testa. Sinto-o como se fosse hoje. Orquídeas brancas a balançar. 
O olhar da criatura. 

Acordo!

Com o corpo em suores frios e o respirar forte, mais uma noite onde os seus rostos me perseguem. Já me começo a habituar ao final destes anos todos. Deitado na cama ainda com a roupa de ontem, olho em redor e tudo vai deixando de ser nublado, começando a ganhar forma. As velas ainda ardem. Passo a mão pela cara e sinto as lágrimas na minha face. Olho para o tecto por momentos e sento-me na beira da cama. Pego num livro no topo de outros tantos e folhei-o, mas sem pensar no que estou a ler. Vamos resgatando o máximo que conseguimos lá de fora. Durante uma semana, assaltos à biblioteca foram a nossa prioridade porque o Miguel, um dos membros do concelho, acredita que podemos aprender e procurar nos livros respostas para a nossa sobrevivência e futuro. Tenho que concordar com ele e agradecer por essa ideia, porque foi com os livros que aprendemos a fazer explosivos e a metê-los em vários pontos da casa que serve de fachada ao nosso asilo, em caso deles nos descobrirem e atacarem um dia. Vamos só esperar que esse dia nunca chegue.

Lavo a cara na bacia de água limpa e olho-me ao espelho. Já estou nos meus trinta e quatro anos, feitos hoje. Com a ponta dos dedos passo por cima do olho que perdi durante uma das escavações, tapando-o de seguida com a pala. Molho em água fresca a barba comprida e o cabelo também ele comprido e já grisalho. Se elas tivessem vivas e se me vissem agora não me iriam reconhecer. Nunca na vida. Sorrio só de pensar nisso. 

Visto um casaco de cabedal castanho escuro, já gasto, e calço-me. Afasto a cortina do meu quarto e saio. Os cânticos voltam e ao caminhar pelos corredores e pela área do concelho reparo na quantidade enorme de velas que se espalharam em apenas algumas horas. Vejo um grupo de mulheres e homens em vestes de monges que caminham lentamente em fila indiana. Não pertencem ao grupo senil de Vírgina. Não pertencem a ninguém. Apenas são pessoas que se oferecem para ajudar em tempos de luto. Olho para eles e baixo a cabeça em forma de cumprimento, seguindo-os sem perturbar o seu caminho. Entramos por uma das aberturas que dá para o lago e vejo a quantidade de pessoas que estão a entoar os cânticos pela alma de Teresa. 
Só os trabalhadores vitais e alguns guardas é que não estão presentes. 

Deixo os monges irem á frente em direcção ao meio do lago. Envolto em panos de linho branco, o corpo nú de Teresa encontra-se pousado em cima de uma espécie de jangada feita de madeira. Tão calma e bela com o seu cabelo arranjado e tratado. Ao seu lado está a mãe que segura na jangada. No corpo da criança bate um raio de luz que entra pela fenda que existe no topo do tecto da caverna. Aquele é o ponto mais fraco do nosso asilo, mas essencial para a nossa sobrevivência incluindo a renovação do oxigénio, saber em que parte do dia estamos ou apenas podermos olhar para algo feita de luz natural, sem ser estas paredes frias e mal iluminadas. Mesmo tapada por raízes de árvores, que descem e caem pela fenda, é possível com a junção de algum azar os seres encontrarem-na. Apesar da presença dos guardas durante a noite, não nos é dada a segurança que eu desejaria. Junto-me ao resto do concelho que se encontra no ponto mais alto da área, cumprimentando-os silenciosamente. Não me junto aos cânticos mas eles estão aqui.
Os monges entram na água, como se ignorassem a água nas suas vestes e aproximando-se do corpo, rodeando-o. Pegam em jarros de barro e com a água do lago vão molhando o corpo lentamente, banhando-o, enquanto a mãe de Teresa pega em cristais trabalhados retirados das paredes desta mesma caverna e os vai pousando no corpo da sua filha. 
Um dos monges abre os braços como pedido de silêncio e sem retirar o capuz da cabeça fala.


Ó Deus. Ó Deuses. Ó tu que nos abandonas-te e castigaste ouve-me. - diz ele com a voz baixa e rouca mas suficiente para todos ouvirem – Ouve-me pois concedei-nos alguma alegria. Vos suplicamos, não nos leveis mais filhos pois perder mais um é como perder toda a vida que criaste. Perdoai os nossos pecados e Acorda do teu trono para nos acariciar a alma. - Finaliza ele voltando a baixar a cabeça e dando tempo para os cânticos retomarem.

Os monges largam os jarros na água deixando-os ir ao fundo e com a ajuda da mãe pegam no corpo da rapariga. Começam a caminhar para fora do lago e dirigem-se para as escadas que só são usadas em dias como este. Os seus degraus foram trabalhados durante anos por um grupo de pessoas que tinham sido historiadores ou professores de história onde neles esculpiram e pintaram a história da Humanidade até ao dia dos ataques. Estas escadas juntas à parede da cave vão dar à área de cima, com ligação ao corredor mais perto da saída da gruta. Nesta fase, eu e os membros do concelho juntámo-nos aos monges. A partir daqui só estão autorizados a ir ao exterior o concelho, os monges, os familiares mais próximos do defunto e cinco guardas com armas de fogo.
Ao juntar-me ao grupo questiono-me onde estará o pai da rapariga e mais importante ainda, porque é que ainda não vi Virgínia.

Continua...

Texto por.: Daniel Lopes

Página V e VI do cáp I. 


Final da pagina IV


Deixo para trás este infeliz acontecimento que só me faz cada vez mais desistir de tudo. Só não desisto de tudo e enfio uma bala na cabeça porque a caminhar até ao meu quarto passo por dezenas de pessoas e familias inteiras que dependem de mim e do conselho que criámos. Olho nos olhos de uma criança e vejo neles a sua vontade de sair desta gruta para caminhar e brincar ao ar livre novamente. Mas em vez disso tudo se vai apenas tornando numa memória envolta em recordações de morte e lágrimas. O casal que o rodeia serão mesmo os seus pais verdadeiros ou apenas um casal que o adoptou?

É em momentos de desespero, de dor, que o Homem mostra o seu melhor ou pior lado. Raspo a minha mão na parede da caverna e por momentos esqueço o que acabou de acontecer. Esqueço a família que perdi e agradeço a alguém pela sorte que tivemos em encontrar, entre os que sobreviveram, alguém com experiência  em construção e alicerces. Foi o que nos permitiu manter esta gruta de pé. No terceiro ano de construções onde muitos de nós morriam de sede e doença enquanto não conseguiamos parar de escavar por algum motivo fora do nosso entender, encontrámos um rio subterrâneo que criou ali um lago de água pura e cristalina. No passado, antes dos ataques, já tinha visitado as grutas e lagos de Alvados no antigo conselho de Porto de Mós, que são por si só magnificos, mas não se consegue comparar à imensidão e beleza destas.  

Foi uma das imagens mais bonitas que já vi em toda a minha vida. Quando entrámos, a luz das lâmparinas e das tochas brilhava e reflectia na água límpida. Os homens caíam ao chão com as mãos nos rostos a chorar. O barulho da corrente dançava nos nossos ouvidos. Todas as cores verdes, castanhas e amarelas enchiam-nos o olhar e a alma naquele momento, único e eterno, gravado nas nossas mentes.

Esse dia, foi sem dúvida um marco, e nesse mesmo instante nasceu o concelho e a decisão de construir um asilo com a sua ordem e paz á volta deste local belo e perfeito.  Comigo somos oito no total, mas como já pensei várias vezes, vejo Vírginia como uma praga e uma ameaça ao que resta da nossa humanidade. 

Ao chegar ao meu quarto atiro-me para cima do sofá. Descalço as botas e suspiro. Pego num copo meio sujo e numa garrafa de malte que guardo para aqueles dias menos bons e encho-o até meio. Ao beber vou fechando os olhos e tudo passa diante deles como se fossem flashes. A terra fértil que trouxemos lá de fora para tentarmos cultivar vegetais, os animais de gado que conseguimos resgatar nos montes e o sacrifício que fizemos em não os matar e os comer naquele mesmo momento. Como esperámos, como tratámos deles para se reproduzirem até se tornarem numa boa fonte de alimento. 

Acabo de beber e pouso o copo no chão. Levanto-me para cair automáticamente na cama. Fecho os olhos e ao longe muito suavemente ouço cânticos em forma de oração pela alma da Teresa. Sinto os passos suaves daqueles que ainda caminham e que acendem velas por ela. Tudo se vai desvanecendo até adormecer.

Amanhã temos o funeral da criança e com ele vem a Vírginia. 

Continua...

Texto por.: Daniel Lopes

Final da Página IV.

Imagem por.: George Wasses de as Minas de Alvados

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Capitulo I, pág. III e IV


Tudo fica parado. Quieto.
Os trabalhadores olham à procura de onde tinha vindo o grito de dor.
Sinto um apertar no peito e, de repente, outro grito seguido de barulhos e mais gritos. Corro pelo meio da área dos trabalhadores e desço por um corredor circular feito de degráus de pedra que vai dar à secção do andar de baixo.
Um casal vestido em trapos apontam-me por onde seguir.
Não consigo decifrar as vozes, nem o quero. Só quero chegar à origem do grito o mais rápido possivel.
Este barulho vai atraí-los até nós!

Vejo um aglomerado de pessoas junto de duas mulheres e um homem na zona dos aposentos. Mal me aproximo, as pessoas afastam-se. Reparo no homem de barbas brancas e feições fortes a segurar na mão de uma miúda, que nao deve ter mais do que quinze anos. Ela está de pernas abertas e morde um pedaço de madeira, ao mesmo tempo que da sua boca conseguem fugir gritos. A dor deve ser demasiada para que a consiga suportar, por isso tento não pensar que esta desordem toda pode eventualmente atrai-los.
Eles que venham!
A outra mulher, idosa, com uma cicatriz ainda recente na face segura-lhe nas pernas e tenta-lhe transmitir reconforto e força através de palavras calmas e sinceras. Olho para ela e ela para mim e, nos seus olhos vejo o medo e a ansiedade. Ajoelho-me ao pé da criança e passo a minha mão suavemente pela sua testa. Tem a pele suada e amarela.
Vai morrer.

Como te chamas querida? - Pergunto eu afagando os seus cabelos.
Te... Teresa, senhor... - Responde ela com os olhos muito abertos e soluços na voz enquanto as suas mãos agrarravam com mais força a manta grossa debaixo do seu corpo.
O homem começa a chorar no momento que os olhos dela vão revirando e o sangue não pára de jorrar do seu sexo. Este é já o quinto aborto que acontece só neste mês, mas felizmente as outras mulheres tiveram mais sorte, conseguindo manter-se vivas. Desde que cá estamos ainda não houve um único parto em que a criança tivesse sobrevivido.
A velha deixa de lhe segurar nas pernas ao mesmo tempo que Teresa lança um grito agudo, seguido por um último suspiro.
Ela morre.
Todas as pessoas baixam a cabeça. O homem chora no seu peito. A idosa levanta-se e afasta-se indo lavar as mãos numa bacia com água, ali ao pé. Pouso a mão no ombro do homem.

Era sua filha? - Pergunto.
Era sim...a minha bébé. O meu amor! - Palavras que lhe saem por entre lágrimas.
O pai da criança onde está? Eu aviso-o da perda. - Não sabendo mais o que dizer ou fazer.
Sou eu... - Responde o homem. - Sou eu. Era eu o pai da criança... - Levantando a cabeça e olhando nos meus olhos com a cara encharcada de lágrimas. - Eu amava-a...

Olho directamente para ele. Sussurros e frases de reprovação começam a subir de tom nas vozes dos sobreviventes que nos rodeiam. Vejo a imagem da minha filha. Vejo a sua morte.
Sem pensar agarro o homem pelos cabelos e esmurro-o violentamente na boca com o punho cerrado. Sinto os dentes dele a ficarem cravados nos nós dos meus dedos. Não digo mais nada. Não consigo. Afasto-me enquanto o ouço gritar e chorar o quanto a amava e ainda a ama. As minhas mãos não conseguem parar de tremer. A multidão abre caminho para eu passar e vejo a velha parada encostada á parede. Não temos médicos, nem quem o tivesse sido antes dos ataques, o que faz com que nós tenhamos que nos contentar com estas beatas. Medicamentos não existem e um assalto ao que resta do antigo hospital está fora de questão. Da última vez que um grupo tentou entrar lá foi completamente chacinado. Desde esse dia fomos observando o edifício e aprendendo que os seres têm inteligência suficiente ao ponto de não sairem de lá, de dia ou de noite, porque sentem que estamos vivos. Mesmo não sabendo a nossa localização, vão-nos retirando os bens de primeira necessidade, para nos irem matando aos poucos.
Observo a velha ainda a esfregar as mãos a tentar tirar o sangue que já lá não existe.

Arranja o corpo por favor. Amanhã faremos o funeral. - Digo eu á beata.
Claro que trato dela...ela era minha filha.


Continua...



Texto por.: Daniel Lopes

Agradecimentos aos meus amigos que têm vindo aqui comentar, ou apenas a dar-se ao trabalho de ler, mas, em especial um grande beijinho e um obrigado à Sofia por me corrigir os erros e apoiar-me como se não houvesse amanhã.

Que isto seja um degrau que dê a uma escada para o nobel da literatura. : P

E em "Soundtrack" recomenda-se vivamente Red Sparowes para quem ler estas palavras.

: )

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Capitulo I, pag II e III

Lá fora tudo se encontra desfeito, queimado e destruído. Os corpos que haviam espalhados pelas ruas há muito que desapareceram. Comidos e arrastados por eles.
As casas, o Palácio da Pena, a beleza da terra e tudo que outrora foi Sintra transformou-se em cinzas e pó em segundos.
Por mais sol que esteja durante o dia, agora, o que eu vejo não é mais do que um cenário cinzento e escuro.

A noite aproxima-se.

Deixo para trás a janela e o inferno que a paisagem me dá e caminho até ao andar de baixo. Afasto uma mesa no meio dos destroços e levanto o alçapão. Este pedaço de metal é tudo o que nos separa deles.
Entro até meio do corpo, para conseguir pôr a mesa de volta no mesmo sitio. Desço as escadas de pedra e entro na cave da casa. Esta parte não foi sequer tocada pelos seres. Foi aqui que nos mantivemos durante quase um ano. Nessa mesma altura, começámos a construir o asilo, enquanto iam chegando mais sobreviventes. Lutávamos contra os seres que captavam o nosso cheiro ou apenas o barulho. Já não tenho conta de quantos matámos, nem de quantos perdemos, mas, sei que começámos a recear tudo à nossa volta. Até uma pedra se podia tornar num ser em forma de criança com asas negras e foices na mão.
Não era a primeira vez que tal acontecia, e com isso, muitos perderam a vida.

Com o punho da faca que tenho no meu cinto dou duas pancadas na porta de metal embutida na parede que dá para o asilo e automaticamente ouço do outro lado sussuros de vozes seguido por um carregar das armas.
Os guardas são novos. Só chegaram há cerca de duas semanas. Depois do que eles devem ter vivido e visto lá fora, nao me supreende minimamente o nervosismo que eles emanam.
Antes que as coisas evoluam digo o meu nome.

Silêncio.

A porta abre-se.
Entro sem cumprimentar os guardas. Eles também não o fazem. Creio que nos habituámos facilmente ao silêncio, talvez mais pelo medo de os atrair até nós. Afinal de contas, muitos de nós começaram novas familias aqui dentro, e, com familias vem o dever de as proteger acima de tudo. Melhor do que eu protegi a minha.
O asilo começa por um corredor estreito todo revestido em cimento, onde lâmpadas penduradas no tecto dão uma luz fraca mas suficiente. Nas paredes, frases e textos escritos a vermelho anunciam o fim do mundo. Aquele, que acredito já ter chegado.

Depois dos ataques ninguém aqui falava em religião, Deus ou salvação, porque uma coisa era certa, todos nós sentiamos isto como o julgamento final.
Deus fechou os olhos e adormeceu no seu trono, deixando-nos à mercê da morte, e a morte jubilou sobre o nosso sangue. Agora dança, matando e apanhando quem ainda luta pela sua existência. Isto é, se existe mais alguém para além de nós.
Agora, depois da chegada de Virginia, tudo mudou.
Virginia é uma mulher de cabelos negros, magra, cujos ataques a tornaram cega. Uma luz brilhante cuspida da terra assaltou-a, disse ela. Conseguiu chegar cá trazida por dois batedores do nosso grupo que a encontraram estendida, nua e ferida, no meio do Convento dos Capuchos.
Desde que chegou, começou a sofrer de pesadelos onde acordava a gritar. Depois dos pesadelos começaram os murmúrios e as escritas na parede.
Visões, grita ela.
As pessoas começaram a ouvi-la e o fanatismo começou a instalar-se. Primeiro criaram um altar, depois vieram as missas cada vez mais frequentes, até que se começou a instalar o boato de que um simples toque da mão dela, pode criar ou curar doenças.
Ela agora vive num quarto privado na última secção da cave, envolta em panos e velas. Todos os dias recebe cada vez mais crentes e mais oferendas.
O poder dela sobe, e o meu e o do conselho diminui.

O corredor vai dar à primeira área aberta do asilo. É aqui que instalámos a primeira barreira da nossa defesa, onde trabalhamos e fazemos armas ou apenas utensílios para o dia a dia. O calor aqui com as fornalhas é inacreditavel, mas admito que a proporção que este asilo tomou em apenas oito anos é de admirar.
Perco-me a olhar para todos estes homens que trabalham sem parar como se a próxima faca ou tacho que criam, fosse a resposta à salvação que procuram.

Ouve-se um grito.



Texto por.: Daniel Lopes

Continuaçao do Primeiro Cápitulo, apresentando as páginas 2 e 3.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Cap I, pagina I

Capitulo I
(página um)

Olho pela janela e relembro o dia em que o ser meio cão, meio bode, entrou de rompante pelo nosso esconderijo matando seis dos oito que éramos. De como ele corria sobre as paredes e tectos da casa. A facilidade que tinha em atirar ao chão e arrancar os membros das suas vitimas.
A sorte que tivemos dos gritos daqueles que morriam não atrairem mais deles. De como um rapaz esguio, na altura de nome Jorge, pegou num ferro caído no chão e o espetou no meio dos olhos do "cão". A primeira vez que vi o sangue deles a jorrar dos seus corpos.
Todas estas memorias me assaltam em ondas, desde esse dia.
Já se passaram oito anos.
Neste tempo, do nosso lado, fomos encontrando mais sobreviventes, criámos um asilo subterrâneo e a melhor defesa que soubemos. Armas de fogo são poucas, por isso machados, facas, espadas e tudo que faça eles sofrerem é o melhor que temos.
Mas o mais importante, aprendemos a observá-los, a evitar e a lutar contra eles.

O meu nome é Cássio Aquiles Lopes e este é o ano 2016.

Tenho informações de que os seres conquistaram e mataram toda vida na Europa e Ásia. Os Estados Unidos foram atacados mas conseguiram defender-se durante dois anos, até que foram atacados por Cuba. A não prever este ataque, os Estados Unidos caíram e Cuba tornou-se na nova potência mundial. Mas, nos dias em que correm, creio que isso não significa muito.
Em 2009 Cuba lançou três bombas núcleares contra os seres na América do Norte, mas não adiantou nada. Morreram centenas ou mesmo milhares deles, mas os mesmos apareceram num espaço de dias.
Ainda nao sabemos donde eles vêm, nem o porquê.
A última noticia que ouvimos na rádio foi há três anos atrás. Desde aí alguns de nós acreditam ser os únicos sobreviventes da raça humana.

Introdução


Lisboa esta em chamas.

Eles vieram durante o nascer da noite. Seres que nunca antes tinha visto em filmes, lido em livros ou sonhado nos meus piores pesadelos.
Sairam das árvores. Do mar. Do chão. Bocas enormes em chamas puxadas por crianças em cinzas e olhos vermelhos que se riem enquanto matam, pilham e tudo queimam. Dos céus surgiram luzes verdes rodeadas por seres voadores envoltos por gritos de choro, queimando, em segundos, casas, prédios e tudo que estivesse pelo caminho. Entre corpos e cinzas consegui fugir de carro até Sintra e para trás deixei em lágrimas amigos, familia e a minha filha que perdi para este dias de jugalmento final. Fechei na minha mente as suas mortes que assisti para tentar viver para mais um dia.

Sintra, eventualmente foi atacada com a mesma violencia que Lisboa. Não sei como sobrevivemos, mas, o que importa é que agora nesta casa meia desfeita tudo observamos sem saber que próximo passo dar. Somos oito, um rádio e vários enlatados. Não falamos uns com os outros e nao sussurramos com medo que eles se sintam atraídos pelas nossas vozes. Apenas nos damos ao luxo de passear com o olhar uns pelos outros. O rádio, só o ligamos no minimo durante o dia que é quando eles parecem estar mais distantes, ou apenas mais escondidos. Lisboa foi só o inicio pelo que consegui ouvir no radio. Já conseguiram avançar até a fronteira de Espanha e França. Nenhum pais estrangeiro nos ajuda, porque estão demasiados preocupados com as suas defesas, e os Estados Unidos, Brazil e México apenas não ajudam com medo que eles fiquem a saber o caminho pelo mar até ao seu continente. O que eles não sabem é que eles apareceram de todos os lados e não irá ser um Oceano que os irá parar.

Creio que mesmo em tempos finais a arrogância é demasiado bela para ser posta de lado.

Este é do décimo terceiro dia desde o "ataque" e a meio da noite observo pela janela um ser com corpo de bode e cabeça de lobo cheirando e aproximando-se do nosso esconderijo. Da sua boca caem correntes que arrastam caveiras meias raxadas.

Cheira, arranha, até que pára a olhar para a casa. As correntes da sua boca tremem.

É agora... O inicio dos meus últimos dias.




Continua.





Escrito por.: Daniel Lopes

Apenas uma ideia que me apareceu na cabeça, provavelmente devido a todas as imagens que me teem chovido na mente nestes ultimos dias.


No proximo texto. Cuba como nova potencia mundial, e sangue. lol ^^
P.s.: Aceitam-se propostas de titulos por favor. : P


Imagem por.: Gustave Doré de 1865

sábado, 12 de julho de 2008

Um dado de Seis



Suspirei e a dor foi levada com as folhas de um novo amanha.

Já mais serei um pedaço de papel rasgado colado no teu sapato enquanto caminhas pelo teu passeio das lembranças.

Atiro um dado de seis e aqui começa um novo dia. 

E com o novo dia apareces tu.

Podemos passar a noite juntos, onde eu irei falar junto do teu pescoço até sentir a tua pele ao meu agrado. Os meus dedos podem passar pelo teu corpo até sentir um desejo incrivel de te beijar. Aqueles desejos que nos assaltam nos momentos que menos esperamos. E isto tudo é o que desejamos enquanto vivemos, e bebemos uma bebida desta vez ao teu gosto. 

Dás-me a mão e estamos no nosso bar preferido. A agulha do gira discos vai rasgando o vinil e a musica dança com os nossos corpos. As luzes vão realçando as nossas feições e os nossos sorrisos enquanto vivemos por momentos neste mundo de desejos e verdades.

Podemos passar a noite juntos, onde estas a usar as minhas ligas preferidas. Entre um sorriso e um toque de lábios, nós, esta noite, vamo-nos beijar. Beijos quentes e profundos. Suor no meio dos nossos peitos. Intacto e puros os nossos corpos um contra o outro. Podemos passar a noite juntos e podemos viver para sempre, pois esta, é a nossa noite. 

Tu, dás-me luz, entao, esta noite leva-me para onde quizeres, que eu beijo-te as cochas e desenho o teu retrato com as minhas mãos. 

Tão verdadeiro. Diz-me como te sentes.

Atiro um dado de seis e arrisco mais uma vez na minha bela senhora. 

Texto por.: Daniel Lopes

Dedicado a.: Sofia, pois mereces tudo e o quer que venha, eu estarei sempre aqui.

Foto.: A bela Modelo e minha amiga bryttny's. Thanks Girl ;)  

terça-feira, 24 de junho de 2008

Amor e Doença


Hoje acordei ao sabor da lua a lamber os céus. Nao questionei o meu acordar nem o porque. Apenas sentei-me na cama e cuspi o sangue que tinha nos pulmoes. Ao olhar para o sangue senti vontade de o espalhar pelo espelho do quarto. Algo em mim queria tapar ou esconder tudo que ele tinha visto. 

Sera que ele sentiu o mesmo que eu?

Espelho meu, espelho meu, existe alguém mais belo do que eu agora no final?

O meu punho cerra-se e começo a bater no espelho. Ele vai rachando. Vai quebrando. Vai sentindo a dor que sinto desde o momento em que pousei o meu olhar em ti. No momento que senti o teu cheiro. O espelho quebra. Pedaços de vidro voam cortando a minha face, e, em cada gota de sangue que sai do meu corpo eu mato um momento que vivi contigo. 

Duas horas passam e o meu corpo fecha as feridas que tenho. A porta abre-se. Tu entras pegando em mim e levas-me nesta cadeira com rodas. Falas e sussurras ao meu ouvido. Não consigo entender uma unica palavra, porque me perco com demasiada facilidade no teu sorriso. 

O meu corpo vai morrendo. O caminho até ao meu último destino acontece. 

A tua mão sobre a minha perna enquanto conduzes faz-me olhar pelo vidro e notar em todos os pormenores que atá hoje não tinha dado importância.

Vou sentir falta deste mundo.

As árvores que servem de ninho para os pássaros e de sombra para os casais. Vento suave num dia de calor. Vozes que falam uma com a outra. Carros com famílias lá dentro. Carros com pessoas sozinhas. Caminhos percorridos. Caminhos por percorrer. Onde vamos nós? Para onde? 

Vou sentir falta deste mundo.

Há oito anos atras, ainda antes de a beijar, ela disse-me que não podia algum dia ficar comigo porque tinha sida. Que não era justo amar alguém para depois quem sabe estragar-lhe a vida, e ver essa pessoa desaparecer. A minha resposta a esse momento foi apenas esta... beijá-la. Não queria saber. Era algo com que podia viver e contornar. Só e apenas queria tratar dela... pois, ela, era o meu amor. 

É o meu amor.

Ainda hoje, nos meus últimos momentos não me arrependo da decisão que tomei. Tratei dela, como sempre desejei, mas a doença acabou de cair sobre mim, e com a doença veio o ser chamado de morte que agora arranha a minha alma. Creio que me vou com um sorriso, mas, lamento saber que esta minha viagem parte-lhe o coração, e que ela se culpa por tudo que aconteceu. 

Nada disto é culpa dela. Não estou em dor.

Olho para ela, e tenho a certeza, que depois deste dia ela irá tomar a sua própria vida, e isso eu não posso deixar acontecer. Quero que ela tenho um funeral católico num futuro. Mesmo que lhe peça com todas as minhas forças ela vai ser a casmurra que sempre foi e não me irá ouvir, ou ligar a algo que lhe peço. Prendo-me nela. Na sua mão sobre a minha perna. Não tenho muitas mais forças. Uso o peso que resta do meu corpo e encosto-me a ela. Aproximo a minha boca do seu ouvido e digo-lhe o que sempre desejei. Agarro o volante e mesmo que ela lute eu ganho esta batalha. Giro o volante e aponto o carro na faixa contrária. 

Um carro contrário não se consegue desviar.

 

Irei sempre tratar dela.

Fim.

Texto por: Daniel Lopes

Imagem por: Pierre Devlin

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Amor misturado com sonhos

Quando a lua paira sobre as nossas almas damos por nós perdidos neste mar infinito de dúvidas e traições. Tudo pode cair como um pano no fim de uma peça. A questão é mesmo, o que acontece entre a lâmina fria que entra pelo teu corpo adentro e o êxtase de um orgasmo puro de prazer como morder o peito de um ser amado.
Podes-te ver perdido meu amigo, mas, o que posso apenas afirmar junto do teu ouvido é que tudo paira, tudo flutua. Tudo viaja e no fim o que fica são os momentos. Momentos esses que guardas junto a ti ou os que apenas atiras fora guardados numa caixa.

Um dia irás subir até ao monte mais alto da tua alma e nesse dia irás apaixonar-te por alguém que desejas, que sempre quiseste no teu núcleo sem nunca te teres apercebido desse querer.
Como beber um bom copo de vinho, vais sugar todos os pormenores do amor que ele tem para te oferecer. Todas as palavras irão ficar marcadas, mas, toma consciência que também esse amor te irá cuspir, pôr o teu corpo sobre uma dor agonizante, onde muitas vezes irá vir em ondas silenciosas.
Olha meu amigo, olha pelos meus olhos e vê este conto que te tento contar:

Algo em ti ainda é secreto... - diz ela sentada no meu colo com os lábios a raspar a minha orelha - secreto para mim.
Algo? - pergunta ele incrédulo afastando a cabeça e olhando-a nos olhos.
Sim. Ainda não descobri que algo é esse. Mas sei, sinto que me irás magoar e deixar. Apenas o que me resta é aproveitar o tempo que me resta contigo. - O olhar dela torna-se penetrante nos olhos dele.
Estou aqui. Não vou a lado nenhum. Nem o quero. - Responde ele com toda certeza no seu ser.
Estás aqui agora, mas, a verdade é que não o vais estar amanha.
O que te leva dizer isso meu amor? - Pergunta ele realmente curioso, e quem sabe, que o dia de amanha chegue.
Tudo me leva a sublinhar as palavras que já disse. Apaixonei-me por ti, e sei o que quero contigo. Daí a razão que quando te digo que te amo, ou apenas, que gosto de ti, não podia ser mais sincero... - ajeita o cabelo castanho e enche o peito de ar para ganhar coragem para confessar as suas próximas palavras - Olho para ti, e sei que tu és o meu tal. Pode haver palavras tuas que me irão magoar. Pormenores em ti, que posso não achar perfeito. Até um cabelo fora do sitio que nao se enquadra no meu sonho de homem eu irei reparar...
Creio que estou a compreender - interrompe ele.
Até mesmo sei que irá haver sempre algo ou alguém que vou desejar com que fosses tal e qual, mas isso, não passa de coisas com que sonho... - continua ela - coisas inatingiveis. Não quero que sejas o meu sonho. Apenas quero que sejas meu. Que estejas ao meu lado no dia de amanha, porque no fim do dia, eu não te consigo amar sem os teus defeitos e acima de tudo, sem eles, nao consigo viver ou mesmo respirar.


Compreendeste meu amigo as palavras que te mostrei? compreendes que o que desejas nunca o irás ter? Agora no fim do dia quando estiveres com música a tocar nos teus ouvidos o que vais desejar, vai ser um sonho que nunca poderás vir a ter, ou algo, real e sincero?
A decisão apenas te cabe a ti, mas no fim, eu estarei aqui no batel para te julgar e levar pelos corredores neste rio de sangue pelas decisões que escolheste.

O amor nao foi criado para ser perfeito, mas sim, para ser amado.

Sente a areia da tua nova praia entre os teus dedos dos pés e por favor, por favor, não estragues tudo.


Texto por.: Daniel Lopes na companhia de Sofia Fernandes ^^



sábado, 3 de maio de 2008

MSTRKRFT - High Fidelity


High Fidelity Recomenda :







Artista: MSTRKRFT


Não é muito do meu universo musical falar de artistas que se "dobram" sobre a musica electrónica, mas, tenho que admitir que estes dois DJ's despertaram realmente a minha curiosidade. Principalmente, porque os fiquei a conhecer devido a alguns Remix de musicas de bandas como Wolfmother, The Kills, Block Party etc. O que me levou a estudar quem eram estes MSTRKRFT.
Ora bem, MSTRKRFT que se lê como "Masterkraft", é composto desde 2005 por Jesse F. Keller, ex-integrante dos Death from Above 1979 (sim, os CSS tem uma musica onde referem desta banda :) ) e Al P. (Alex Puodziukas), ex-integrante do grupo de electropop Girlsareshot.

E explicar a sonoridade dos MSTRKRFT, deixo mesmo ao critério do Al P. - ""Pesado, disco underground e muito house com pitadas de rock americano".

É claro que eu vi a maior parte da piada no som, devido aos remixes, e isso, eles conseguem cativar sem estragar a verdadeira essência da musica original. Em relação aos seus álbuns de originais, já não me conseguem atrair tanto.

Outro aspecto interessante é que estes senhores vão estar neste mesmo ano, no festival de Oeiras, por isso, quem for ao festival e não conhecer esta "banda", aconselho seriamente a ouvir e a apreciar. Creio sinceramente, que eles irão trazer uma boa sonoridade ao festival.

E aqui deixo o link para o vídeo do remix da musica Monster Hospital pelos Metric.
http://www.youtube.com/watch?v=UbEDmEeOFi4




Enjoy

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Madeleine.



Línguas de mel em bocas de cobra. Esta, e apenas esta é a explicação para tamanha mentira. Escreves-me uma carta com o teu próprio sangue a falar-me dos teus desejos. Dos teus lábios e do teu corpo. De como me querias tocar e despir-me.

Acredito em tudo. Mesmo quando leio as tuas cartas junto do corpo do meu pai deitado na cama que vai morrendo com cada segundo que eu dispenso a olhar para as letras. Para as letras que me escreves. Porque me dizes que escreves as tuas palavras em sangue e suor!? Não vês que isso só me faz querer gritar. Gritar ao ouvido do meu pai até o seu cabelo ficar totalmente branco, até a sua pele começar a cair e no fim só existir a cama. Para ele morrer de uma vez, e eu poder correr até ti.

Uma ultima vez.

O seu cheiro eu não quero sentir mais. A sua velhice eu não quero ver mais. O que eu desejo. O que eu quero, é apenas sentir o teu calor. O teu corpo. Os teus lábios nos meus. Os teus dedos finos e fortes a passar pelo meu corpo. a arranhar a minha pele. Dizes que eu sou bela e pões a tua mão no meio das minhas pernas.

Nada disto é correcto. Nada disto nunca poderia ter sido aceite... mas, não consigo parar de pensar em ti.

Ainda me lembro da primeira vez em que te toquei. No coche. Iam só as nossas duas almas. Não falamos, mas, os nossos olhos não se desprenderam um dos outros. Levantaste-te e vieste para a minha beira. Sussurras-te as mais belas palavras ao meu ouvido, e com um toque certo e calmo dos teus dedos viras-te a minha cara para ti. Sei que foi só uma questão de segundos, mas pareceu-me uma eternidade até os teus lábios tocarem nos meus.

E qual é a mentira? A mentira reside em todos aqueles escritores que falam de amor, e paixão, e que enfeitam tanto que acreditamos ser possível realmente viver e ser feliz. Eu encontrei o meu amor. A minha paixão, e agora, não a posso viver?

Este mundo é uma mentira, e o amor, não passa de dor com vestidos virgem.

Vou ver o meu pai a dar o seu ultimo suspiro, e com esse suspiro ele irá ver o meu sorriso e os meus olhos em lágrimas.

Com o cair da lamina da guilhotina sobre o teu pescoço eu irei tomar o veneno que guardo.

Podemos não poder estar juntas agora... mas, meu amor, esta vida não nos ira derrotar na próxima.

Da sempre tua

Madeleine.







Texto por: Daniel Lopes



Imagem por: Kamilsmala

domingo, 6 de abril de 2008

Cartas e Musica


Amor meu de ontem.

Sento-me nas escadas da minha casa.

Na casa que outrora já foi nossa.

O sol apareceu. Esta quente. Sinto-o a aquecer a minha pele.

Um vinil de rock dos anos 70 toca lá dentro, mas, o som esta alto o suficiente para eu não ouvir mais nada.

Só eu, o sol e a musica é que estamos juntos hoje.

A casa encontra-se deserta e tenho que admitir que o seu estado é no mínimo belo. Vazia de pessoas. Vazia de mobiliário onde só as paredes nuas resistem.

Cheguei ontem a noite, onde a lua era luz suficiente para eu conseguir movimentar-me dentro de casa. Abri as janelas todas e deixei entrar os primeiros ventos da primavera. Pousei o gira discos no chão com as colunas. Caminhei pela casa e todos os nossos momentos passaram pela ponta dos meus dedos. O teu perfume assaltou-me mais vezes do que eu desejava. E relembro o momento em que me deixaste como se lágrimas secas se tratassem.

Neste talho que é o nosso amor, partes de mim são vendidas ao teu prazer.

No que te poder ajudar meu amor!

Vasculha, corta pelo meu corpo e pela minha alma a dentro até encontrares aquilo que me faz mexer e lutar por ti. Retira a venda dos teus olhos e aí irás encontrar a maneira certa como me magoares.

Nunca me deixaste por dizeres que já não me amas, que já não tas apaixonada por mim ou que simplesmente perdeste o interesse total em mim. Apenas, te foste afastando, e eu sem compreender. Sem me aperceber, fui-te perdendo.

Tentei apertar-te, tentei agarrar-te, mas, o quanto mais tentava, mais eu te perdia.

Tivemos tudo por momentos.

E apenas um momento bastou para que perdêssemos tudo.

No fim, apenas algo te posso prometer.

Nunca te irei deixar ser a minha insónia.

O dia de amanha só tu me poderás dizer, mas enquanto isso, irei continuar a gritar na tua alma. Sente tudo aquilo que fomos, que somos e que jamais iremos ser.

O canhão da pistola roda suavemente e ao sabor da musica um tiro certeiro no meu crânio canta.







Texto por: Daniel Lopes



Imagem por: Daniel Lopes

domingo, 30 de março de 2008

Suspira! Respira! Sente!


Não fumo, mas bebo.


Bebo, porque em cada gole que dou relembro um momento que ainda não vivi contigo. O gira discos toca alto o suficiente para eu não conseguir ouvir mais nada. Fecho os olhos e dou mais um gole, com que faz tu apareceres. Não quero imaginar como vens vestida. Isso, deixo ao teu critério. Não sei... se calhar irei beijar-te pela primeira vez num concerto, no metro, na rua ou apenas próximo de uma parede, numa qualquer rua. Só sei que neste momento estamos no meio de um concerto. Toda a gente salta e dança ao som da musica, mas, nós, estamos a olhar um para o outro. Não adoras aqueles pedaços de tempo, onde os nossos olhares se podem prender um no outro que parecem durar uma eternidade?


O calor.


Suspira! Respira! Sente!


A bateria toca cada vez mais alto, que faz com que pedaços do meu coração vão caindo até ficares só tu nele.


Bato palmas, e o concerto desaparece para dar lugar ao mar, que entra violentamente pelas portas do recinto. Não nos magoa. Não nos toca.

Apenas, nos envolve completamente.

Apenas, nos massaja o corpo.

Todas as pessoas se transformam em seres do mar.

Meu amor, que seres desejas tu que apareçam? Isto aqui não sou eu. Somos nós!

Mais um gole, e o mar transforma-se no nosso jardim.

Tudo sinto.

Tudo vejo.

Suspira! Respira! Sente, e voltamos ao concerto.

Tudo se mexe em câmara lenta, pois os melhores momentos são para ser vividos lentamente, como se estivéssemos a saboreá-los.

A nossa banda sonora? Sim. É mesmo dela que se trata este concerto.

Dou um gole e no meu ser ficam as nossas musicas.

Como dizia alguém, a vida é demasiado curta para sermos parvos para com ela, por isso só posso dizer que sabes a certo, e a certo irás saber.

Pouso o copo.

Abro a porta e parto a tua procura.

Suspira! Respira! Sente-me!

Não te preocupes, hoje sei muito mais do que sabia ontem.

Eu irei encontrar-te e tu a mim.











Texto por: Daniel Lopes

Trabalho por: Daniel Lopes inspirado numa foto de Helga Romero, tal como ela me inspirou para este texto. ;)

sexta-feira, 28 de março de 2008

The Kills - High Fidelity













High Fidelity Recomenda:



Artista: The Kills



The Kills, ou seja, a vocalista Alison «VV» Mosshart e o guitarrista Jamie «Hotel» Hince, vêm ao Porto apresentar o novo álbum, The Midnight Boom.


Tudo acontece no dia 12 de Maio na Casa da Música, no fantástico evento que é o Clubbing.

Este é já o terceiro concerto desta banda no nosso pais, tendo sido o primeiro no Sudoeste e depois em Paredes de Coura.

O preço do bilhete para o Clubbing será de 15 euros, mas lembrem-se que não é só The Kills a que terão direito. Juntamente com The Kills estarão os The Whip e todos os outros eventos dentro do Clubbing.



E é com o novo single desta fantástica dupla The Kills que vos deixo:


http://www.youtube.com/watch?v=w3fZP7QC4PE



Enjoy!