segunda-feira, 21 de abril de 2008

Madeleine.



Línguas de mel em bocas de cobra. Esta, e apenas esta é a explicação para tamanha mentira. Escreves-me uma carta com o teu próprio sangue a falar-me dos teus desejos. Dos teus lábios e do teu corpo. De como me querias tocar e despir-me.

Acredito em tudo. Mesmo quando leio as tuas cartas junto do corpo do meu pai deitado na cama que vai morrendo com cada segundo que eu dispenso a olhar para as letras. Para as letras que me escreves. Porque me dizes que escreves as tuas palavras em sangue e suor!? Não vês que isso só me faz querer gritar. Gritar ao ouvido do meu pai até o seu cabelo ficar totalmente branco, até a sua pele começar a cair e no fim só existir a cama. Para ele morrer de uma vez, e eu poder correr até ti.

Uma ultima vez.

O seu cheiro eu não quero sentir mais. A sua velhice eu não quero ver mais. O que eu desejo. O que eu quero, é apenas sentir o teu calor. O teu corpo. Os teus lábios nos meus. Os teus dedos finos e fortes a passar pelo meu corpo. a arranhar a minha pele. Dizes que eu sou bela e pões a tua mão no meio das minhas pernas.

Nada disto é correcto. Nada disto nunca poderia ter sido aceite... mas, não consigo parar de pensar em ti.

Ainda me lembro da primeira vez em que te toquei. No coche. Iam só as nossas duas almas. Não falamos, mas, os nossos olhos não se desprenderam um dos outros. Levantaste-te e vieste para a minha beira. Sussurras-te as mais belas palavras ao meu ouvido, e com um toque certo e calmo dos teus dedos viras-te a minha cara para ti. Sei que foi só uma questão de segundos, mas pareceu-me uma eternidade até os teus lábios tocarem nos meus.

E qual é a mentira? A mentira reside em todos aqueles escritores que falam de amor, e paixão, e que enfeitam tanto que acreditamos ser possível realmente viver e ser feliz. Eu encontrei o meu amor. A minha paixão, e agora, não a posso viver?

Este mundo é uma mentira, e o amor, não passa de dor com vestidos virgem.

Vou ver o meu pai a dar o seu ultimo suspiro, e com esse suspiro ele irá ver o meu sorriso e os meus olhos em lágrimas.

Com o cair da lamina da guilhotina sobre o teu pescoço eu irei tomar o veneno que guardo.

Podemos não poder estar juntas agora... mas, meu amor, esta vida não nos ira derrotar na próxima.

Da sempre tua

Madeleine.







Texto por: Daniel Lopes



Imagem por: Kamilsmala

domingo, 6 de abril de 2008

Cartas e Musica


Amor meu de ontem.

Sento-me nas escadas da minha casa.

Na casa que outrora já foi nossa.

O sol apareceu. Esta quente. Sinto-o a aquecer a minha pele.

Um vinil de rock dos anos 70 toca lá dentro, mas, o som esta alto o suficiente para eu não ouvir mais nada.

Só eu, o sol e a musica é que estamos juntos hoje.

A casa encontra-se deserta e tenho que admitir que o seu estado é no mínimo belo. Vazia de pessoas. Vazia de mobiliário onde só as paredes nuas resistem.

Cheguei ontem a noite, onde a lua era luz suficiente para eu conseguir movimentar-me dentro de casa. Abri as janelas todas e deixei entrar os primeiros ventos da primavera. Pousei o gira discos no chão com as colunas. Caminhei pela casa e todos os nossos momentos passaram pela ponta dos meus dedos. O teu perfume assaltou-me mais vezes do que eu desejava. E relembro o momento em que me deixaste como se lágrimas secas se tratassem.

Neste talho que é o nosso amor, partes de mim são vendidas ao teu prazer.

No que te poder ajudar meu amor!

Vasculha, corta pelo meu corpo e pela minha alma a dentro até encontrares aquilo que me faz mexer e lutar por ti. Retira a venda dos teus olhos e aí irás encontrar a maneira certa como me magoares.

Nunca me deixaste por dizeres que já não me amas, que já não tas apaixonada por mim ou que simplesmente perdeste o interesse total em mim. Apenas, te foste afastando, e eu sem compreender. Sem me aperceber, fui-te perdendo.

Tentei apertar-te, tentei agarrar-te, mas, o quanto mais tentava, mais eu te perdia.

Tivemos tudo por momentos.

E apenas um momento bastou para que perdêssemos tudo.

No fim, apenas algo te posso prometer.

Nunca te irei deixar ser a minha insónia.

O dia de amanha só tu me poderás dizer, mas enquanto isso, irei continuar a gritar na tua alma. Sente tudo aquilo que fomos, que somos e que jamais iremos ser.

O canhão da pistola roda suavemente e ao sabor da musica um tiro certeiro no meu crânio canta.







Texto por: Daniel Lopes



Imagem por: Daniel Lopes