
Línguas de mel em bocas de cobra. Esta, e apenas esta é a explicação para tamanha mentira. Escreves-me uma carta com o teu próprio sangue a falar-me dos teus desejos. Dos teus lábios e do teu corpo. De como me querias tocar e despir-me.
Acredito em tudo. Mesmo quando leio as tuas cartas junto do corpo do meu pai deitado na cama que vai morrendo com cada segundo que eu dispenso a olhar para as letras. Para as letras que me escreves. Porque me dizes que escreves as tuas palavras em sangue e suor!? Não vês que isso só me faz querer gritar. Gritar ao ouvido do meu pai até o seu cabelo ficar totalmente branco, até a sua pele começar a cair e no fim só existir a cama. Para ele morrer de uma vez, e eu poder correr até ti.
Uma ultima vez.
O seu cheiro eu não quero sentir mais. A sua velhice eu não quero ver mais. O que eu desejo. O que eu quero, é apenas sentir o teu calor. O teu corpo. Os teus lábios nos meus. Os teus dedos finos e fortes a passar pelo meu corpo. a arranhar a minha pele. Dizes que eu sou bela e pões a tua mão no meio das minhas pernas.
Nada disto é correcto. Nada disto nunca poderia ter sido aceite... mas, não consigo parar de pensar em ti.
Ainda me lembro da primeira vez em que te toquei. No coche. Iam só as nossas duas almas. Não falamos, mas, os nossos olhos não se desprenderam um dos outros. Levantaste-te e vieste para a minha beira. Sussurras-te as mais belas palavras ao meu ouvido, e com um toque certo e calmo dos teus dedos viras-te a minha cara para ti. Sei que foi só uma questão de segundos, mas pareceu-me uma eternidade até os teus lábios tocarem nos meus.
E qual é a mentira? A mentira reside em todos aqueles escritores que falam de amor, e paixão, e que enfeitam tanto que acreditamos ser possível realmente viver e ser feliz. Eu encontrei o meu amor. A minha paixão, e agora, não a posso viver?
Este mundo é uma mentira, e o amor, não passa de dor com vestidos virgem.
Vou ver o meu pai a dar o seu ultimo suspiro, e com esse suspiro ele irá ver o meu sorriso e os meus olhos em lágrimas.
Com o cair da lamina da guilhotina sobre o teu pescoço eu irei tomar o veneno que guardo.
Podemos não poder estar juntas agora... mas, meu amor, esta vida não nos ira derrotar na próxima.
Da sempre tua
Madeleine.
Texto por: Daniel Lopes
Imagem por: Kamilsmala