
Tremo.
Rasgo a carne da pele com as minhas próprias unhas. Encostado neste beco cheio de engodo mutilado grito por alguém... por algo.
Mas ninguém vem.
Nunca ninguém veio.
Fecho os olhos e recordo. Vejo o dia em que tudo começou. No dia em que a minha queda teve inicio. As portas do sótão batem freneticamente ao sabor do vento.
Sete anos atrás... sete anos sem comer nem dormir. No sonho as portas do sótão param repentinamente de bater. O vento deixa de soprar.
Tudo isto num piscar de olhos.
Caminho num corredor. Não agora. Passado. Sete anos atrás. Caminho lentamente. A pele dos dedos da minha mão raspam suavemente nas paredes. A luz do candeeiro começa a tremer até que apenas pisca, deixando aquilo que eu vejo como se pequenos flashes de fotografia se tratasse. Chego ao fim do corredor e olho para o topo das escadas onde se encontra o sótão.
Rasgo a carne da pele com as minhas próprias unhas. Encostado neste beco cheio de engodo mutilado grito por alguém... por algo.
Mas ninguém vem.
Nunca ninguém veio.
Fecho os olhos e recordo. Vejo o dia em que tudo começou. No dia em que a minha queda teve inicio. As portas do sótão batem freneticamente ao sabor do vento.
Sete anos atrás... sete anos sem comer nem dormir. No sonho as portas do sótão param repentinamente de bater. O vento deixa de soprar.
Tudo isto num piscar de olhos.
Caminho num corredor. Não agora. Passado. Sete anos atrás. Caminho lentamente. A pele dos dedos da minha mão raspam suavemente nas paredes. A luz do candeeiro começa a tremer até que apenas pisca, deixando aquilo que eu vejo como se pequenos flashes de fotografia se tratasse. Chego ao fim do corredor e olho para o topo das escadas onde se encontra o sótão.
A porta fechada.
Ouço o rosnar de um cão. Estranho... nunca tivemos cães nesta casa.
Olho para trás. Para o corredor. Nada.
Estranho.
A luz volta ao normal.
Os pelos dos meus braços começam a levantar. Ar frio começa a entrar nos meus pulmões. Sinto o tempo a parar.
Moscas começam-se a aglomerar-se a volta do candeeiro. O barulho é estonteante.
Começo a ficar tonto. Algo se passa aqui.
O rosnar não desaparece. Como se estivesse dentro da minha cabeça.
Tento segurar-me contra a parede, mas, no momento em que toco nela ouço algo, e tudo o resto desaparece.
São... risos.
Risos de crianças.
Ouço o rosnar de um cão. Estranho... nunca tivemos cães nesta casa.
Olho para trás. Para o corredor. Nada.
Estranho.
A luz volta ao normal.
Os pelos dos meus braços começam a levantar. Ar frio começa a entrar nos meus pulmões. Sinto o tempo a parar.
Moscas começam-se a aglomerar-se a volta do candeeiro. O barulho é estonteante.
Começo a ficar tonto. Algo se passa aqui.
O rosnar não desaparece. Como se estivesse dentro da minha cabeça.
Tento segurar-me contra a parede, mas, no momento em que toco nela ouço algo, e tudo o resto desaparece.
São... risos.
Risos de crianças.
Sombras começam a aproximar-se. Elas correm. Tem a forma de crianças. Olhos amarelos começam a aparecer por todo o corredor, e a tapar toda a luz que havia. As moscas continuam ali, coladas ao candeeiro.
Nos ouvidos só sinto o barulho do meu coração.
As sombras aproximam-se mais.
Param por momentos a olhar para mim. Envolvem-me. Observam-me, até que passam por mim, como se eu não fosse importante. Como eu conseguir ver-las não é importante.
Mas... agora percebo! Elas não estão preocupadas comigo.
Estão, sim, é preocupadas em ver quem é a primeira a chegar ao sótão.
Como tudo se tratasse apenas de uma brincadeira para elas.
Subo as escadas em direcção ao sótão. Os degraus rangem com cada passo meu. Parece que choram, como, se o meu peso as magoasse.
Estou descalço. Foi assim que sai do meu canto.
Sinto algo húmido.
Olho e vejo que os degraus sangram. Sangue escorre deles.
Sangue!
Mesmo antes de conseguir gritar a porta do sótão abre abruptamente e de lá alguém começa a assobiar.
Chama por mim.
Sinto-o.
Não diz o meu nome, mas chama por mim.
Subo até ao topo ignorando o que já vi e o que já me aconteceu.
Espreito pela porta e vejo pelo sótão inúmeras crianças a brincar.
Algumas jogam com dados, outras com carros. Nove crianças no total. Todas diferentes mas todas com o mesmo brilho amarelo nos olhos.
Onde é que eu estou?
No momento em que pouso o pé no sótão, todas param e olham fixamente para mim.
Silencio.
Mais silencio.
Silencio para depois se tornar em algo insuportável. Todas começam a gritar. Todas abrem a boca como se fossem de elástico. Som de mil e uma crianças em sofrimento a gritar. Os meus ouvidos começam a doer, e a minha cabeça a latejar.
Mas não fecho os olhos, e reparo que uma por uma as crianças vão desaparecendo e tornando-se em pó.
Que sonho é este?
Algo me toca.
Uma grande dor no peito. Começo a chorar, e ai, sinto uma voz ao meu ouvido.
- Não chores.
Esfrego os olhos e olho para aquele que falou comigo.
Ele... sou eu! Tal e qual.
Pergunto incrédulo.
- Quem és tu?
Ele responde com um sorriso nos lábios.
- A tua alma... já devias saber isso.
- A minha alma?... – pergunto como se estivesse a ter dificuldade em acreditar no que acabei de ouvir. - ..mas isso, quer dizer que eu estou...
- Morto!? – acaba ele a minha pergunta.
Não consigo pensar em nada, quanto mais perguntar. A minha alma estica-se e pega na minha mão.
- Anda. Vou-te mostrar.
Num piscar de olhos encontro-me no meu quarto, e vejo o meu corpo deitado no meio de lençóis encharcados de sangue.
Olho para a minha alma e ela com um sorriso estala os dedos.
O tempo, os acontecimentos e os momentos começam a andar para trás.
Tudo fica enublado. Cinzento. Quero saber quem me fez isto. Quem me matou.
Que mal fiz eu?
Aperto a mão à alma e tempo para e vejo tudo. Sinto tudo.
Durmo. Um sorriso esta desenhado na minha face. Era feliz eu.
De repente a luz do quarto acende-se. O meu pai entra.
Pai!?
Ele tem um machado nas mão. Caminha lentamente até a beira da minha cama. Senta-se e esconde o machado atrás da perna.
Vejo tudo como de um filme se tratasse. Mas não o é.
É a minha morte!
Olho para o meu pai. Para o seus olhos negros e sem fundo.
Ele abana a perna do meu “eu” que descansa suavemente na cama. Acordo a esfregar os olhos.
- Pai?
O meu próprio pai levanta-se e fica a olhar para mim. Para o meu “eu”. Vejo o medo que trepa na minha face na altura que o meu pai levanta o machado.
Ouço o que ele me diz antes de enfiar o machado no meu peito.
- O teu tempo aqui, connosco, foi apenas... uma perda de tempo.
PAM!
O machado é espetado no meu peito. Nunca tive hipóteses. Agarro o meu peito e fecho os olhos.
Choro, choro até não haver mais agua neste ser que sou agora.
O que sou eu?
Que ser sou eu?
O humano... a carne humana está morta na cama, enquanto o meu próprio pai retira o machado do meu peito.
A minha alma encontra-se ao meu lado a mostrar quem eu fui, e, como morri.
Quem sou eu?
Grito, e parto com o grito até ao sótão novamente.
A alma fixa-me e mesmo antes de eu perguntar ela diz.
- Quem és?
Soluço por entre o meu choro – Sim? Quem... sou eu? O que sou?
- Apenas uma perda de tempo – responde ela.
Morro.
Uma e outra vez.
Sete anos se passaram. Neste tempo mais duas almas se juntaram no sótão.
Sozinho neste meu canto, grito todos os dias, mas, nunca ninguém vem.
Nunca virão.
Na casa ouço os passos do caminhar da minha mãe. Ela entra na sala onde se encontra o meu pai a beber e a ler perto da lareira.
Ela sorri, e eu sinto ódio.
Daqui tudo vejo. Daqui tudo sinto.
O meu pai pousa a bebida e olha para ela.
Um riso miudinho sai dentro dela antes de falar.
- Querido... estou grávida!
Ele sorri. Dá um gole na bebida e levanta o copo para a minha mãe e diz triunfante.
- Só espero que desta vez valha a pena.
Sete anos mais tarde mais um criança se juntou no sótão.
Sete anos... a idade que eu tinha.
Fim
Nos ouvidos só sinto o barulho do meu coração.
As sombras aproximam-se mais.
Param por momentos a olhar para mim. Envolvem-me. Observam-me, até que passam por mim, como se eu não fosse importante. Como eu conseguir ver-las não é importante.
Mas... agora percebo! Elas não estão preocupadas comigo.
Estão, sim, é preocupadas em ver quem é a primeira a chegar ao sótão.
Como tudo se tratasse apenas de uma brincadeira para elas.
Subo as escadas em direcção ao sótão. Os degraus rangem com cada passo meu. Parece que choram, como, se o meu peso as magoasse.
Estou descalço. Foi assim que sai do meu canto.
Sinto algo húmido.
Olho e vejo que os degraus sangram. Sangue escorre deles.
Sangue!
Mesmo antes de conseguir gritar a porta do sótão abre abruptamente e de lá alguém começa a assobiar.
Chama por mim.
Sinto-o.
Não diz o meu nome, mas chama por mim.
Subo até ao topo ignorando o que já vi e o que já me aconteceu.
Espreito pela porta e vejo pelo sótão inúmeras crianças a brincar.
Algumas jogam com dados, outras com carros. Nove crianças no total. Todas diferentes mas todas com o mesmo brilho amarelo nos olhos.
Onde é que eu estou?
No momento em que pouso o pé no sótão, todas param e olham fixamente para mim.
Silencio.
Mais silencio.
Silencio para depois se tornar em algo insuportável. Todas começam a gritar. Todas abrem a boca como se fossem de elástico. Som de mil e uma crianças em sofrimento a gritar. Os meus ouvidos começam a doer, e a minha cabeça a latejar.
Mas não fecho os olhos, e reparo que uma por uma as crianças vão desaparecendo e tornando-se em pó.
Que sonho é este?
Algo me toca.
Uma grande dor no peito. Começo a chorar, e ai, sinto uma voz ao meu ouvido.
- Não chores.
Esfrego os olhos e olho para aquele que falou comigo.
Ele... sou eu! Tal e qual.
Pergunto incrédulo.
- Quem és tu?
Ele responde com um sorriso nos lábios.
- A tua alma... já devias saber isso.
- A minha alma?... – pergunto como se estivesse a ter dificuldade em acreditar no que acabei de ouvir. - ..mas isso, quer dizer que eu estou...
- Morto!? – acaba ele a minha pergunta.
Não consigo pensar em nada, quanto mais perguntar. A minha alma estica-se e pega na minha mão.
- Anda. Vou-te mostrar.
Num piscar de olhos encontro-me no meu quarto, e vejo o meu corpo deitado no meio de lençóis encharcados de sangue.
Olho para a minha alma e ela com um sorriso estala os dedos.
O tempo, os acontecimentos e os momentos começam a andar para trás.
Tudo fica enublado. Cinzento. Quero saber quem me fez isto. Quem me matou.
Que mal fiz eu?
Aperto a mão à alma e tempo para e vejo tudo. Sinto tudo.
Durmo. Um sorriso esta desenhado na minha face. Era feliz eu.
De repente a luz do quarto acende-se. O meu pai entra.
Pai!?
Ele tem um machado nas mão. Caminha lentamente até a beira da minha cama. Senta-se e esconde o machado atrás da perna.
Vejo tudo como de um filme se tratasse. Mas não o é.
É a minha morte!
Olho para o meu pai. Para o seus olhos negros e sem fundo.
Ele abana a perna do meu “eu” que descansa suavemente na cama. Acordo a esfregar os olhos.
- Pai?
O meu próprio pai levanta-se e fica a olhar para mim. Para o meu “eu”. Vejo o medo que trepa na minha face na altura que o meu pai levanta o machado.
Ouço o que ele me diz antes de enfiar o machado no meu peito.
- O teu tempo aqui, connosco, foi apenas... uma perda de tempo.
PAM!
O machado é espetado no meu peito. Nunca tive hipóteses. Agarro o meu peito e fecho os olhos.
Choro, choro até não haver mais agua neste ser que sou agora.
O que sou eu?
Que ser sou eu?
O humano... a carne humana está morta na cama, enquanto o meu próprio pai retira o machado do meu peito.
A minha alma encontra-se ao meu lado a mostrar quem eu fui, e, como morri.
Quem sou eu?
Grito, e parto com o grito até ao sótão novamente.
A alma fixa-me e mesmo antes de eu perguntar ela diz.
- Quem és?
Soluço por entre o meu choro – Sim? Quem... sou eu? O que sou?
- Apenas uma perda de tempo – responde ela.
Morro.
Uma e outra vez.
Sete anos se passaram. Neste tempo mais duas almas se juntaram no sótão.
Sozinho neste meu canto, grito todos os dias, mas, nunca ninguém vem.
Nunca virão.
Na casa ouço os passos do caminhar da minha mãe. Ela entra na sala onde se encontra o meu pai a beber e a ler perto da lareira.
Ela sorri, e eu sinto ódio.
Daqui tudo vejo. Daqui tudo sinto.
O meu pai pousa a bebida e olha para ela.
Um riso miudinho sai dentro dela antes de falar.
- Querido... estou grávida!
Ele sorri. Dá um gole na bebida e levanta o copo para a minha mãe e diz triunfante.
- Só espero que desta vez valha a pena.
Sete anos mais tarde mais um criança se juntou no sótão.
Sete anos... a idade que eu tinha.
Fim
Texto por: Daniel Lopes
2 comentários:
Arrepiou-me =p Ta mesmo altamente >.<
Fantastico...
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