segunda-feira, 24 de março de 2008

Cartas de Guerra


Meu amor.



Desço pelas escadas do meu interior e dou comigo mais uma vez perdido. Perdido parece ser o meu destino pois tudo que eu era foi arrancado da minha alma.

O ser humano tem o dom incrível de começar a amar algo numa piscina de duvidas e dores quando já perdeu algo. Mesmo quando se encontra numa encruzilhada e vê diante de si a possibilidade de voltar a ter tudo que teve. De voltar a ser o que era, dá consigo mesmo a seguir o mesmo caminho errado.
E todos estes pontos. Todos estas silhuetas estão a tornar-me na pessoa que hoje em dia não quero ser.
Frio. Irracional. Incompleto... e sobretudo negro.
E isto tudo porquê?
Porque algo foi arrancado de mim. Algo ainda incerto.
Acordo todos os dias com raiva no meu olhar e uma bola negra de ódio dentro de mim que vai crescendo e crescendo.
Não a queria.
Não a desejo... mas, a verdade é que ela é neste momento o meu nirvana.
Compreende que escrevo esta carta para ti no meio de uma poça de lama misturada com o meu sangue. A minha volta só os corpos dos meus amigos de quem já fui e quem nunca virei a ser.
A bala alojada no meu peito grita-me que não tenho muito mais tempo. Por isso, enquanto as balas passam sobre a minha cabeça, posso dizer-te que nunca vivi com medo, sempre observei e até hoje só olhei para ti.
O tempo vai mudando no céu.
Vem ai uma tempestade e eu já não estarei aqui para desfrutar dela.


Com o meu ultimo respirar despeço-me de ti, mas, nunca direi adeus.








Texto por: Daniel Lopes

Imagem por: Desconhecido

2 comentários:

Anónimo disse...

"Os ventos que as vezes tiram algo que amamos, são os mesmos que trazem algo que aprendemos a amar... Por isso não devemos chorar pelo que nos foi tirado e sim, aprender a amar o que nos foi dado. Pois tudo aquilo que realmente é nosso, nunca se vai para sempre."

Kitiara disse...

Olha... isto ja se torna um bocado repetitivo, mas gosto muito do que escreves. Gosto de poder visualizar o que esta escrito porque tu consegues proporcionar isso. E sinceramente, so o "nunca vivi com medo, sempre observei e até hoje só olhei para ti" bastava pra eu te dizer que esta mesmo mesmo muito bonito. Parabens. Beijos.