Empurro os meus dedos pelo crânio a dentro até tocar no meu cérebro para conseguir parar esta dor de cabeça que me persegue. As vozes estão mudas, mas arranham-se. Olham para mim. Dentro de mim.
Todo este tempo abraçando os comprimidos, o álcool, as drogas para nada. Cuspo nos meus dias de ontem para os desejar de volta no dia de amanha.
Começa a chover ao mesmo tempo que tento apertar os atacadores das botas e segurar o cigarro na boca sem ficar a chorar dos olhos com o fumo ao mesmo tempo. Ainda não percebi muito bem porque fumo. Não me sabe bem. Não é bom beijar alguém que fuma. Não faz bem à saúde, senão não acordava todos os dias a tossir e a cuspir catarro preto.
“Mete-te na bebida em vez de fumar. Pelo menos com o álcool ficas mais alegre e fácil de aturar” – diz ela.
Raios parta os cabelos negros e olhos bonitos que caio sempre que nem um pato, e, raios parta os passeios pelos domingos de manha. Ela aperta melhor o casaco no pescoço devido ao frio ignorando a chuva que vai caindo certa.
“Não fico chato bêbado? Parece-me que toda a gente fica impossível de aturar com os copos. Então, os que começam a chorar não consigo ter paciência mesmo” – acabo de apertar os atacadores, levantando-me olhando directamente para ela de cima.
“Felizmente não passas por nenhuma fase difícil de aturar. Ficas alegre e mais livre. E o sexo é melhor…” – com aquele sorriso de sempre.
Olho de lado tentado perceber se quando não estou com os copos não é bom, mas sei que mais alguma palavra sincera sobre este assunto não consigo arrancar. Já estou mesmo a ouvir as palavras na minha mente – “Não, não querido. É sempre excelente. Verdade que é. Anda, vamos mas é passear.” E flores explodem no ar com a mentira inocente que não magoa o meu ego mas o faz de burro como se ele fosse um cego a pedir moedas no metro de Lisboa.
O cigarro de repente pesa uma tonelada na mão.
“Então, ficaste estranho de repente e ainda nem ias a meio com aquele cigarro. Levas-te a sério o que eu disse, foi?” – quase consigo sentir o riso a explodir na sua garganta.
Ela tapa a boca com a mão tentado disfarçar o riso contido. Faço-me de estúpido e abraço-a seguindo caminho. Ela deixa-se abraçar e aponta pelo caminho a seguir. Tento não pensar no assunto e nem fazer nenhuma pergunta.
“Podia ser melhor era?” – pergunto eu.
Raios.
“O quê? O sexo?” – responde-me ela com uma pergunta.
“Sim. O fazermos amor. Querias que fosse melhor?” – sinto-me a gaja nesta conversa. Ela diz sexo. Eu digo amor. Bonito…
“Nunca tive melhor. O melhor que tive foi contigo, por isso, não sei se queria que fosse melhor. Sei que é muito bom fazer contigo como também sei que não devias levar tão a sério tudo que eu digo.”
“Boa resposta.”
“Eu sei. E já recomeçavas a escrever novamente.” – Atira-me à cara enquanto estala os dedos para um pequeno cão deitado no passeio que se delicia a lamber a própria pata lentamente. Assobia e chama por ele, mas sem sucesso.
“Eu sei. Ando a tentar.” – Digo em modo de desculpa barra justificação.
Passeamos o resto da manha pelas ruas estreitas da cidade. Paramos. Andamos. Apontamos. Vemos e rimos. A chuva miúda vai e vem. A minha mão esfrega as suas costas por cima do seu casaco. Beijos sempre no inicio de uma curva. Um vício nosso. Como se ao concluir a próxima curva que dá para mais uma pequena rua fosse o começo de uma nova relação.
Aponto para um café já com um novo cigarro na mão. O sítio tem um aspecto acolhedor com os seus castanhos, as madeiras e o seu ar quente. Ao chegar à porta vejo o sinal de que não se pode fumar.
“Queres acabar de fumar aqui fora?” – pergunta ela enquanto se abraça a mim e eu dou mais uma passa. Abano a cabeça a dizer que sim e acabo de fumar. Olho para o fumo a diluir-se com o ar e meto a mão ao bolso.
Tiro o maço de lá e penso na minha escrita. Amasso na mão os cigarros todos e deito tudo fora. Ela olha para mim e eu encolho os ombros.
“Decidi meter-me na bebida.” – E nunca antes falei tão a sério.

A todos peço desculpa pelo meu tempo de ausência. Mudança de cidade. Mudança de personalidade. Mudança de atitude. Muitas mudanças ao mesmo tempo para me poder dedicar a isto e ir indo actualizando.
Vou fazer uma limpeza a este blogue e continuar. A ver o que o dia de amanha nos traz.
Obrigado
Texto por.: Daniel Lopes
Imagem por.: Desconhecido